Oferta Consumidor: 4 revistas pelo preço de uma

Maquiavel

Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

‘A gente não quer só o público bolsonarista’, diz presidente da EBC

Em entrevista a VEJA, Hélio Doyle diz que novelas da Record eram muito caras e politizadas e que emissora pública também precisa ter audiência

Por Victoria Bechara Atualizado em 13 Maio 2024, 22h50 - Publicado em 12 ago 2023, 15h23
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou o seu terceiro mandato, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) passa por uma reestruturação, com a criação do Canal Gov, que entrou no ar em 25 de julho e consolidou o plano de separar a comunicação pública da comunicação de governo. A emissora também reestrutura a programação da TV Brasil e deixou, por exemplo, de comprar novelas da TV Record.

    O presidente da EBC, Hélio Doyle, afirmou que tomou a decisão porque as produções eram muito caras e atingiam um público predominantemente bolsonarista. Na gestão anterior, foram compradas pelo menos três novelas — uma delas, Os Dez Mandamentos, custou 3,5 milhões de reais. “Não queremos perder público, mas a gente não quer só o público bolsonarista”, declarou. Ele também falou sobre a audiência da TV Brasil, que considera baixa, e sobre os planos para a criação de um canal internacional.

    Como mostrou reportagem de VEJA na edição desta semana, a EBC tem um longo histórico de oficialismos problemáticos. Com Bolsonaro, havia censura aos jornalistas e pautas proibidas, como o assassinato de Marielle Franco e a ditadura militar. O ex-presidente também usava a TV Brasil para transmitir sua ida a eventos militares, cultos evangélicos e até a famosa reunião com embaixadores para espalhar notícias falsas sobre o sistema eleitoral — o que culminou na sua inelegibilidade por decisão do Tribunal Superior Eleitoral neste ano. “As polêmicas e até as tentativas de controle são normais e fazem parte do processo democrático. A gente tem que enfrentar isso”, diz Doyle. Leia trechos da entrevista abaixo: 

    Vocês lançaram recentemente o novo Canal Gov. Qual o objetivo? A EBC tem uma dupla missão: fazer a comunicação pública e prestar serviços ao governo. O Canal Gov é a maneira que nós temos de prestar esse serviço ao governo, mediante contrato com a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência). O canal basicamente transmite eventos oficiais, entrevistas coletivas do presidente e ministros. A grade ainda não está completa, mas queremos que tenha outros programas. Tem o Bom Dia, Ministro e um programa novo, do Marcos Uchôa, O Brasil no Mundo. Deixando claro que é uma prestação de serviço, então a programação é definida pelo nosso cliente, mas também tem que ver a nossa capacidade de produção. 

    E haverá mudanças na TV Brasil? Em setembro a gente começa a implementar uma nova programação de forma gradual, mas a maior parte vai estrear no ano que vem. Estamos fazendo a aquisição de filmes brasileiros, também vamos ter um programa de literatura chamado Trilha de Letras, que deve começar e setembro. O Sem Censura deve voltar em outubro. A novela que nós temos atualmente, Os Imigrantes, foi comprada da TV Bandeirantes antes da nossa gestão e termina em novembro. Estamos prospectando a sucessora, queremos manter o horário da dramaturgia e estamos abertos a qualquer possibilidade. Claro que a gente dá prioridade para os produtos brasileiros, mas há uma dificuldade de encontrar uma produção que seja boa e que esteja dentro do orçamento de uma empresa pública. 

    Continua após a publicidade

    Por que a EBC vai deixar de comprar as novelas da Record, adquiridas durante o governo Bolsonaro? Elas eram muito caras e com temas muito politizados. Essas novelas foram compradas porque eram da Record e porque tinham temas bíblicos, que atendiam um público predominantemente bolsonarista. Não queremos perder público, mas a gente não quer só o público bolsonarista. 

    A TV Brasil ficou em quinto lugar no ranking de audiência em janeiro, mas não atingiu um ponto. Como o senhor avalia esses resultados? Quinto lugar parece um resultado bom, mas não é. É baixo. A TV aberta está no processo de concorrência com as redes sociais, com as plataformas de streaming e a TV a cabo, mas a TV aberta ainda é a preferida de boa parte da população, principalmente da população mais pobre. Nosso público são as classes C, D e E. A gente ouve que emissora pública não precisa de audiência. Precisa sim. Queremos ter audiência, mas sabemos das dificuldades, é um trabalho a longo prazo. 

    O senhor disse recentemente que um ministro reclamou de uma matéria feita pela Agência Brasil. Acredita que é possível ter independência total na EBC? Eu acho que tem que ter. A gente conhece inúmeros exemplos de outros países que prezam pela independência da comunicação pública e participação social na definição de programação. Isso é o que caracteriza a comunicação pública. Mas problemas sempre vão existir. A BBC (emissora pública do Reino Unido) teve problemas, em países com a democracia mais avançada, a discussão chega ao Parlamento, o canal público do Canadá está quase todos os dias nos jornais, questionado por causa dos custos elevados que tem em relação ao que entrega, questionado pela oposição por causa disso e daquilo. As polêmicas e até as tentativas de controle são normais e fazem parte do processo democrático. A gente tem que enfrentar isso. A maioria da população e boa parte das pessoas que estão no governo não compreendem ainda o que é comunicação pública. Isso eu também considero natural porque a TV pública é recente no Brasil. Eu citei esse caso, certamente o assessor do ministro que reclamou da matéria não tem clareza do que seja a comunicação pública, entendeu? Foi um exemplo.

    Continua após a publicidade

    “A gente ouve que emissora pública não precisa de audiência. Precisa sim. Queremos ter audiência, mas sabemos das dificuldades, é um trabalho a longo prazo”

    Como é a relação do senhor com os ministros Paulo Pimenta (da Secom) e Juscelino Filho (das Comunicações)? Para falar a verdade, eu não conheço o Juscelino Filho. Eu não sei se ele já veio aqui e. Se veio, eu não estava. Os contatos que foram feitos até agora entre a EBC e o Ministério das Comunicações foram na área técnica. O Paulo Pimenta que transmitiu o convite para eu ser presidente da EBC, ele não interfere na programação do que nós estamos fazendo, a gente conversa. Vou lá e a gente conversa. Minha relação com o Pimenta é muito boa, não tenho nada a reclamar. O Juscelino, como eu disse, não conheço. 

    O presidente Lula disse que o ministro Paulo Pimenta vai fazer um “esforço especial” para criar um canal de televisão estatal com abrangência internacional. No dia seguinte, eu o senhor autorizou a criação de um grupo de trabalho na EBC para discutir isso. Como está o andamento? O Brasil já teve dois canais internacionais. Primeiro se chamava canal Integración, depois foi substituído pela TV Brasil Internacional, aí ela foi extinta. O Lula quer restabelecer essa TV. Eu formei o grupo com várias áreas da empresa para estudar essa volta, porque isso implica financiamento, tecnologia, operações e programação adequada para o canal internacional. Esse grupo tem 30 dias para apresentar suas conclusões, mas dificilmente aconteceria este ano, até porque nós não temos orçamento para isso. Vamos ver o que o grupo diz, se a gente tem condições efetivas de retomar a TV Brasil Internacional no ano que vem. O Lula deixou claro o que ele quer, não é para dar notícia de governo nem de Congresso, é para mostrar o Brasil, os pontos turísticos, a culinária, a música. 

    Continua após a publicidade

     

     

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    SEMANA DO CONSUMIDOR

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
    Apenas R$ 5,99/mês*
    ECONOMIZE ATÉ 47% OFF

    Revista em Casa + Digital Completo

    Nas bancas, 1 revista custa R$ 29,90.
    Aqui, você leva 4 revistas pelo preço de uma!
    a partir de R$ 29,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.