A Igreja Universal do Reino de Deus, uma das maiores denominações evangélicas do país, soltou uma nota na qual afirma que é incompatível ser cristão e votar com a esquerda nas eleições de outubro deste ano. “Se você se diz cristão e ainda vota na esquerda, há apenas duas possibilidades: ou você não segue realmente os ensinamentos do cristianismo ou os segue e ainda não entendeu o que a esquerda é verdadeiramente”, diz a nota, que é atribuída ao bispo Renato Cardoso.
Mas não foi sempre assim. A amnésia eleitoral da Universal apagou, por exemplo, os apoios de seu líder maior, o bispo Edir Macedo, aos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Roussef. O sobrinho do bispo, o ex-senador Marcelo Crivella, foi ministro da Pesca e da Aquicultura de Dilma entre março de 2012 e março de 2014. Houve até bispo da igreja envolvido no mensalão, como o então deputado Carlos Rodrigues, à época o principal porta-voz político da instituição — ele renunciou ao mandato em 2005 e também deixou a Universal.
Há quem diga que Lula não se esqueceu dos velhos aliados e que ainda sonha em recuperar o apoio da Universal. Uma brecha para isso até há: os pastores da igreja estão descontentes com a forma como o presidente Jair Bolsonaro lidou com a crise em Angola – onde ela perdeu os seus templos para religiosos locais – e com a falta de empenho para colocar Crivella como embaixador na África do Sul (o governo chegou a indicar, mas, diante da resistência sul-africana, desistiu).