Em meio a sucessivos escândalos envolvendo Jair Bolsonaro, a edição de VEJA desta semana mostra como aliados políticos do ex-presidente já recalculam o impacto que o desgaste na imagem do ex-presidente terá nas próximas eleições – e como correligionários da sua legenda, o PL, encontram-se em estado de alerta, em especial para os desdobramentos da delação do ex-ajudante de ordens da Presidência da República, o tenente-coronel Mauro César Cid.
Analistas dos principais institutos do pesquisa do país avaliam que, apesar do cenário de deterioração do capital político, verificado pelas últimas sondagens, o estrago sobre a figura de Bolsonaro tem sido abaixo do que se esperaria para alguém com tamanha exposição negativa. O que ainda é difícil de calcular, ponderam, é até que ponto esse desgaste poderá se acentuar — e o quanto isso deverá impactar as eleições que estão por vir.
“É cedo e precipitado afirmar que Bolsonaro perdeu capital político. Acredito que, na verdade, o que ele perdeu foi capacidade de mobilização política, mas só as pesquisas futuras vão poder mostrar isso. Até porque são fenômenos diferentes e com consequências diferentes para o cenário eleitoral futuro”, diz Felipe Nunes, diretor da Quaest Consultoria e Pesquisa.
Um impacto disso pode ser sentido nas redes sociais, um dos pilares que sempre sustentaram o frenesi do eleitorado em torno do ex-presidente. “Os escândalos deixam a rede bolsonarista mais quieta, e elas são um braço importante do bolsonarismo pelo poder de engajamento que têm. Os grupos estão sem comando claro, mas isso não significa que não vão se aglutinar novamente”, diz a pesquisadora Cila Schulman, CEO do Instituto IDEIA.
O outro ponto sobre o qual há um certo consenso é que Bolsonaro, apesar de tudo, continuará sendo um ator importante do jogo eleitoral. De acordo com Murilo Hidalgo, diretor do instituto Paraná Pesquisas, em relação ao resultado da última eleição, a diferença entre os que preferem Lula a Bolsonaro saltou de 2% para 9%, de acordo com as sondagens mais recentes. “Ocorreu um desgaste, mas, com todas as denúncias contra ele, o capital político caiu pouco. A não ser que haja fatos novos, em 2024 ele será, disparado, o grande cabo eleitoral da direita”, aposta.
Um dos motivos a sustentar Bolsonaro é que ele segue como o expoente máximo do sentimento contra o PT e o pensamento de esquerda no país. Escândalos como o desvio das joias sauditas e o possível envolvimento com os atos de 8 de janeiro podem impactar parte do eleitorado, mas, entre os bolsonaristas fiéis, a falta de uma prova cabal que incrimine o ex-presidente abre margem para toda sorte de justificativas. Boa parte desse público, inclusive, sente-se representada pelos ataques sistemáticos contra as instituições. “Nas maiores capitais, o sentimento antipetista e a pauta de costumes acabam sendo mais fortes do que as próprias questões de gestão municipal. Os candidatos precisam considerar essa influência sobre o eleitorado”, afirma Cila Schulman.
A tempestade em torno de Bolsonaro, no entanto, ainda está em formação. Um dos especialistas em comunicação que atuou diretamente com o ex-presidente na última campanha vê o cenário com mais cautela do que os pesquisadores. Para ele, o fato de a avaliação do governo Lula estar melhorando, também segundo as últimas sondagens, indica que o potencial do derretimento da imagem de Bolsonaro é maior do que está sendo calculado.
“Existe um desgaste, mas Bolsonaro ainda consegue manter os votos duros. O que mais o tem prejudicado é o crescimento da esquerda no meio digital e a exposição na imprensa: a presença negativa do nome dele na mídia tem prejudicado a imagem. Fato é que o antipetista que voltou no Bolsonaro está decepcionado e isso está começando a refletir nas redes”, diz o especialista.
Para efeito de comparação, pesquisa divulgada neste mês pelo Instituto da Democracia mostra que 44% dos brasileiros avaliam que a economia melhorou no governo Lula em comparação com o período Bolsonaro — apenas 13% acham que ela piorou. Ao mesmo tempo, 59% da população diz que Lula desperta “esperança” — enquanto apenas 34% sentem o mesmo em relação ao ex-presidente.