Após conversa com Kassab, Eduardo Leite não descarta deixar PSDB
Governador gaúcho tem ressalvas à viabilidade eleitoral de João Doria e, apesar de descartar reeleição no RS, se mantém ativo no debate nacional
Apesar da derrota para João Doria nas prévias do PSDB, o nome do governador Eduardo Leite não sai das principais rodas de conversa de lideranças partidárias para a disputa presidencial. O gesto mais recente vem de Gilberto Kassab, que convidou o tucano para migrar para o PSD. A legenda chegou a lançar o nome do senador Rodrigo Pacheco para o pleito, mas nem o parlamentar nem o eleitorado parecem empolgados com a ideia.
Leite também não esconde que está insatisfeito com o que considera, até aqui, a falta de tração eleitoral da candidatura de Doria e defende que o partido busque alternativas caso o governador paulista não deslanche nas pesquisas. Embora já tenha descartado concorrer a reeleição ao Palácio Piratini, o governador gaúcho não afasta a possibilidade de se manter no debate nacional — mesmo que seja fora do PSDB.
Leia a entrevista:
O senhor prometeu não disputar a reeleição ao governo do RS e já descartou concorrer ao Senado. O que o senhor fará em 2023? Quando deixei a prefeitura de Pelotas, sem também tentar a reeleição, eu fui estudar no exterior e fiz um mestrado em gestão pública na FGV. Me disseraram que era loucura, que seria fatal para minha carreira. Mas isso não me impediu de voltar ao RS e ser candidato ao governo do estado, onde eu ainda precisava me fazer conhecer em outras regiões. Eu não tenho essa preocupação que muitos têm na política, de ter que ficar na vitrine, concorrer a isso ou àquilo. Eu tenho convicção de que o trabalho que estamos fazendo no Rio Grande do Sul vai deixar muitos bons frutos que serão reconhecidos pela população ali na frente e, se for o caso, posso concorrer a outro cargo em 2026. Não tenho esse olhar sobre o futuro imediato como preocupação, até porque 2022 ainda está no início.
Qual tem sido a prioridade neste seu último ano de mandato? Tem muita coisa para acontecer e o próprio governo me demanda muito. Depois de muitos anos sem ter recursos para investimentos, esse ano a gente tem um um volume histórico de investimento: quase 6 bilhões de reais com recursos próprios do Tesouro Estadual. Isso é inédito na história recente. Ao mesmo tempo que é inédito é um desafio porque, ao longo de décadas de problemas fiscais, o estado foi perdendo capacidade de execução, de formulação técnica. Executar todo esse amplo programa de investimentos é um desafio que tem me demandado especial atenção e por isso eu estou muito dedicado ao governo e vou ficar até o final.
O senhor ainda tem sido assediado para disputar a Presidência da República. Está descartado? Eu respeito as prévias do PSDB e tenho dito que é preciso que o candidato escolhido mostre sua viabilidade. O PSDB confiou a ele a liderança de um projeto, mas essa confiança tem que ser retribuída com uma demonstração clara de condições de competitividade. Esta é uma eleição crucial para o Brasil e não podemos levar uma candidatura por um projeto pessoal e nem por um mero projeto partidário. Temos que ajudar a construir algo viável no centro democrático. O que temos visto até aqui, depois de dois meses das prévias, o candidato escolhido não só não avançou como até retrocedeu. Ninguém está cobrando dele desempenho fenomenal nas pesquisas, mas o que se espera é pelo menos a capacidade de ser competitivo, reduzindo a sua rejeição em seu estado.
Então o senhor continua à disposição para a disputa presidencial? Eu não me movimento buscando um candidatura nem vou desrespeitar as prévias do PSDB. Mas se não houver competitividade nos próximos meses, acho que o partido e outras lideranças que tenham proximidade conosco, precisam buscar alternativas. Não estou dizendo que deve ser o meu nome, mas se entenderem que seja, estarei à disposição. Quase metade dos eleitores do PSDB entenderam que nós tínhamos essa condição. Se houver a formação de uma maioria de partidos, vamos buscar construir isso, mas não precisa ser eu, nem dentro do PSDB. Podemos discutir com outros partidos.
Como recebeu convite do Kassab para ir para o PSD? A conversa com o presidente Kassb começa pelas questões locais. O PSD é um parceiro do nosso governo. Em segundo lugar, conversamos sobre as questões nacionais e a conjuntura das eleições, o que se busca de alternativas. Não há um convite formalizado no sentido ‘venha para concorrer’, mas eu sei que há lideranças que provocam a mim e a ele nessa direção.
O senhor se vê fora do PSDB? O PSDB é meu único partido ao qual eu fui filiado por mais de 20 anos. É o partido no qual eu me sinto representado, mas diante, mas diante do que venha a acontecer, se o partido se afastar do seu propósito de viabilizar uma alternativa para o país, podemos ter que conversar sobre isso. Não é o que eu desejo. Eu quero poder ajudar o país a buscar uma alternativa viável e o partido precisa ter essa disposição. Se partido se transformar na sustentação de um projeto pessoal, que tenha pouca viabilidade, eu vou buscar ajudar o país de outra forma, em outro lugar, mas não é algo que eu esteja procurando.
Os governadores do Rio Grande do Sul têm uma tradicional dificuldade de eleger seus sucessores. Como superá-la? Historicamente, os governadores que me antecederam chegaram ao ano eleitoral com baixos índices de aprovação. O nosso governo já é diferente. Segundo os institutos de pesquisa, temos o maior índice de aprovação já registrado em véspera de eleição, pelo menos na história recente. Eu tenho convicção de que essa aprovação ao governo fará a diferença para que a gente possa encaminhar a continuidade do nosso projeto. Nós vamos conversar com o PSDB e os outros partidos para dar continuidade a este projeto que colocou o estado em ordem, deu condições de pagar as contas e que faz investimentos históricos.