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ARTIGO: Como as fake news atuam em nossos circuitos cerebrais

Segundo pesquisa recente do Instituto Locomotiva, quase 90% dos brasileiros afirmaram acreditar em notícias falsas

Por *Vanessa Clarizia Marchesin
Atualizado em 3 set 2024, 17h22 - Publicado em 3 set 2024, 17h21
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  • "Notícias falsas" escrito em teclado
    Redes sociais viraram terreno fértil para a propagação de mentiras (Freepik/Reprodução)

    Em ano de eleição, a polarização encontra um terreno fértil no universo digital. As redes sociais, com seus algoritmos personalizados e bolhas de filtro, amplificam as divergências e dificultam um diálogo construtivo. Quase 90% dos brasileiros afirmaram acreditar em notícias falsas, de acordo pesquisa do Instituto Locomotiva. O aumento das fake news é um indicativo da intensificação da polarização. Mas como a ciência pode nos ajudar com o autoconhecimento?

    A neurociência revela que o cérebro humano possui uma tendência natural a buscar informações que confirmem suas crenças pré-existentes, um fenômeno
    conhecido como viés de confirmação. Essa tendência é reforçada por circuitos cerebrais que associam emoções positivas (sistema de recompensa cerebral) à confirmação de nossas ideias. A mente também é programada para evitar emoções negativas (amígdala neural).

    No experimento de Peter Wason, realizado em 1960, foi evidenciada a tendência humana de buscar e interpretar informações de forma seletiva, privilegiando aquelas que confirmam nossas crenças pré-existentes. Esse viés cognitivo influencia a forma como construímos nossas memórias, levando-nos a lembrar com mais facilidade de fatos que reforçam nossas ideias, mesmo que sejam imprecisos.

    Além disso, a identidade social, ou seja, a sensação de pertencer a um grupo, ativa regiões cerebrais associadas à recompensa (dopamina) e à afiliação. Quando nos identificamos com um grupo, tendemos a defender suas ideias, mesmo que isso signifique distorcer informações ou atacar aqueles que discordam de nós. O sistema de recompensa do cérebro, associado à liberação de dopamina, é ativado como uma forma de antecipação de algo prazeroso, como a sensação de pertencer a um grupo ou de defender uma causa. Essa ativação pode reforçar comportamentos polarizados. Se você se aproxima de algo que irá reforçar suas crenças, a ativação do sistema se torna sistematizado para garantir o direcionamento da busca de informações que provocam a sensação prazerosa. Qualquer coisa que seja diametralmente oposta será considerada como algo nocivo, desprazeroso, portanto deve ser evitado ou combatido, gerando os conflitos observados no ambiente digital.

    Nosso cérebro tem como objetivo garantir a sobrevivência, então ele é um radar para o perigo. Nesse caso o perigo é a informação que contrapõe sua crença, que será reconhecido como uma dor no cérebro e deve ser evitado a todo custo na lógica da sobrevivência. A crença é um componente importante que caracteriza quem você é e sobre o grupo a que pertence. Sendo assim, é um comportamento natural evitar algo que pode ser como uma agressão a nossa identidade, mas muitas vezes pode ter um custo alto e isso acontece em uma velocidade maior no ambiente digital. Muitas vezes é perturbador observar a intensidade e a velocidade deste efeito nas redes sociais.

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    Por que isso acontece? As redes sociais, com seus algoritmos personalizados, fornecem aos usuários conteúdos que se encaixam em suas crenças, reforçando o viés de confirmação. As bolhas de filtro criadas pelas plataformas digitais isolam os indivíduos em seus próprios ecossistemas de informação, dificultando a exposição a diferentes perspectivas. Como consequências observamos uma intensificação de conflitos, uma vez que a polarização leva à radicalização de posições e à dificuldade em
    encontrar soluções rápidas consensuais para desafios complexos, dificultando a construção de pontes com falta de diálogo ponderado. Além disso, este se
    torna um cenário propício para disseminação de fake news, que são utilizadas para influenciar negativamente a opinião pública.

    É impossível desligar nossos vieses e mecanismos de motivação como o sistema de recompensa neural, então o que devemos fazer para diminuir os possíveis efeitos nocivos? O cenário é mais complexo do que as bases discutidas neste artigo, mas gosto de usar a regra de pareto 20/80 para ação: menos é mais. Conhecer e entender como funcionamos nas dimensões biológica e psíquica é um percurso obrigatório que deve ser iniciado na educação infantil. Outro caminho importante é o letramento digital para as pessoas aprenderem como buscar fontes confiáveis de informação mesmo que não reforcem suas crenças, mas que utilizem de evidências validadas pelo
    campo científico.

    Em sala de aula faço este trabalho, que confesso ser um pouco cansativo, mas ao final de cada jornada percebo que uma parte das pessoas da nova geração conseguem observar o benefício deste conhecimento que influencia na saúde mental. Quando encontramos uma recompensa gratificante fica mais fácil modificar nosso comportamento que irá afetar nossa forma de pensar e sentir. É um trabalho de formiguinha, mas gosto do lema “Never give up. Never surrender”, lembrando um filme de 2009. Não desista, faça algo que esteja ao seu alcance.

    *Vanessa Clarizia Marchesin é neurocientista e professora do curso de graduação de Ciências do Consumo da ESPM.

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