O presidente Jair Bolsonaro questionou, em conversa com simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada nesta quarta-feira, 28, o motivo da instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a gestão da pandemia, principalmente a atuação de sua administração. “A CPI vai investigar o quê? Eu dei dinheiro para os caras”, afirmou em referência à transferência de verbas federais para governadores.
Sem apresentar qualquer comprovação, Bolsonaro acusou os chefes de Executivo estaduais de usarem indevidamente o dinheiro destinado pelo governo federal para combater a pandemia. Segundo ele, foram cedidos mais de 700 bilhões de reais aos estados. “Muitos roubaram dinheiro, desviaram. Eu tinha que orientar a não roubar? Ou para usar em outras coisas?”, disse.
Ele citou nominalmente o governo do Rio Grande do Norte, comandado pela oposicionista Fátima Bezerra (PT). “O Rio Grande do Norte, pelo que me consta, foi (usada a verba) para pagar 900 milhões de reais da folha de servidor atrasada”, declarou, sem apresentar provas.
“Muitos (governadores) roubaram dinheiro, desviaram. Eu tinha que orientar a não roubar? Ou para usar em outras coisas?”
Ele também atacou prefeitos. “Os caras, com um simples decreto, tem mais poder que um estado de sítio. No estado de sítio, se fizer alguma coisa de errado, eu sou responsabilizado. E os prefeitos, agora, vão ser responsabilizado por essa CPI que está aí? Será que essa CPI vai ouvir prefeito e governador que baixou decreto para confiscar, como em Sergipe, a propriedade privada? Lá no Ceará, para você ir de uma cidade para outra, tem que ter autorização, um motivo justificado. Toque de recolher, pancada em gente que está na rua. A CPI vai querer chamar ou vai querer fazer Carnaval fora de época?”, questionou.
“Vão se dar mal aqueles (senadores) que estão com essa intenção. Lá tem gente bem intencionada, gente que, não é que me defende, está falando a verdade lá. Agora tem um outro lá (Renan Calheiros) que quer fazer uma onda só”
E aproveitou também para cutucar o desafeto Renan Calheiros (MDB-AL), senador que é o relator da CPI da Covid-19. “Vão se dar mal aqueles que estão com essa intenção. Lá tem gente bem intencionada, gente que, não é que me defende, está falando a verdade lá. Agora tem um outro lá que quer fazer uma onda só”, disse.
Cloroquina
Sobre a investigação pela CPI da divulgação do chamado “tratamento precoce” feita insistentemente por ele, mesmo sem haver comprovação de sua eficácia contra a Covid-19, Bolsonaro voltou a defender a hidroxicloroquina, um dos medicamentos da polêmica terapia. “Agora vem uma CPI para analisar conduta minha. Se fui favorável ou não à cloroquina? Se eu tiver um novo vírus (ele já foi infectado e tomou o medicamento), vou tomar de novo. Eu me safei em menos de 24 horas, assim como milhões de pessoas”, afirmou.
Bolsonaro também disse que não pretende tomar tão cedo a vacina — atitude contrária à de outros chefes de estado, que se imunizaram publicamente para incentivar a adesão da população. “Quando o último brasileiro tomar a vacina, eu tomo. Tem gente apavorada, então toma, passa na minha frente. Eu sou chefe de estado, tenho que dar exemplo. O meu exemplo é esse: deixar, já que não tem para todo mundo ainda. O mundo todo não tem vacina ainda, tome na minha frente”, disse.