Sempre que o governo de Jair Bolsonaro (PL) enfrenta suas piores crises, seu grupo mais ferrenho de apoiadores corre até as redes sociais para instaurar cortinas de fumaça que aliviem a barra do presidente. Uma das mais lembradas é o caso Celso Daniel, na qual acusam o PT de ter relação com o assassinato do ex-prefeito de Santo André, ocorrido em 2002.
Na semana em que o jornalista britânico Dom Philips e o indigenista Bruno Araújo Pereira foram assassinados no Vale do Javari, na Amazônia, não foi diferente. Na segunda-feira, 13, a esposa de Philips, Alessandra Sampaio, declarou que teria sido avisada por autoridades brasileiras que o corpo de seu marido havia sido encontrado. O discurso de culpa do atual governo por facilitar o avanço das atividades criminosas na floresta que culminaram nos assassinatos tomou as redes sociais.
A reação da militância bolsonarista foi imediata. No mesmo dia, perfis anônimos de extrema direita, com dezenas de milhares de seguidores no Twitter, começaram a lembrar o caso Celso Daniel e a ganhar repercussão — a ponto de colocar a tag entre os assuntos mais comentados do dia no Brasil.
Porque Lula não usou a morte de Celso Daniel para fazer política como usa a da Marielle? pic.twitter.com/HxKjC99hVG
— Ercio Santos (@ercio_santoss) June 15, 2022
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O Google Trends, ferramenta do site de buscas que mede os assuntos do momento, mostra que as buscas com o nome “Celso Daniel” quase quintuplicaram entre os dias 13 e 14 de junho.
A mesma estratégia foi usada outras duas vezes neste ano, quando o aniversário da morte da vereadora Marielle Franco completou quatro anos, em março, e mais recentemente, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citou Marielle. O assassinato, sempre que lembrado com a cobrança às investigações, costuma ser um gatilho para os bolsonaristas ressuscitarem a história de Daniel.
Apesar das acusações de que Lula e PT estariam envolvidos no assassinato do ex-prefeito, vale dizer que a conclusão do crime feita pela Polícia Civil de São Paulo na época foi a de que Celso Daniel foi vítima de um crime comum, o que levou à prisão de seis homens, posteriormente condenados em júri popular. Na época, Daniel era um dos coordenadores do programa de governo de Lula, que acabaria eleito presidente no mesmo ano.