Crise na direita: as principais críticas de bolsonaristas de SP a Tarcísio
Grupo de deputados do PL reclama de falta de espaço no governo, de pagamento de emendas, de acertos pré-eleitorais e do descolamento da pauta ideológica
Formalizado na última semana, o grupo de deputados bolsonaristas do PL que se declara contra algumas das propostas encaminhadas por Tarcísio de Freitas (Republicanos) à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) tem elevado o tom das críticas contra o governador — de quem o partido é base aliada na Casa.
O grupo — formado pelos deputados Gil Diniz, Lucas Bove, Paulo Mansur, Tenente Coimbra e Major Mecca — afirma que parte da insatisfação se deve à demora no pagamento de emendas para parlamentares do PL ao mesmo tempo em que Tarcísio favorece deputados de partidos de oposição, como o PT. Também reclamam da falta de espaço da ala bolsonarista no governo e de acenos pré-eleitorais feitos pelo governador.
Cargos no governo
Desde o início da gestão, Tarcísio e o secretário da Casa Civil, Arthur Lima têm sido criticados por parlamentares de diferentes colorações partidárias por não aceitarem indicações de aliados para cargos de segundo e terceiro escalão, além de serem cobrados por supostos apoios negociados durante a campanha. A resistência, inclusive, chegou a suscitar um embate com o União Brasil no meio do ano. Lima, por sua vez, afirma que tem aceitado indicações aos cargos alvos de críticas, que são lotados em secretarias.
Quase seis meses depois do episódio, tudo indica que agora a dor de cabeça de Tarcísio, que segue tendo dificuldades de formar uma base consolidada na Alesp, foi ampliada com o fogo-amigo do grupo “dissidente” do PL. O bloco queixa-se de não ter sido atendido em nenhuma indicação para cargos em secretarias — a única pasta ocupada pelo PL é a da Segurança Pública.
Emendas
Com a proximidade do final do ano, a falta do pagamento integral das emendas voluntárias a cada deputado também tem causado consternamento entre os parlamentares do PL. Pela lei, cada um dos 94 deputados têm, por ano, 11 milhões de reais para serem destinados a prefeituras, que, por sua vez, utilizam o recurso para a realização de obras públicas e a compra de equipamentos e ambulâncias, por exemplo. O mecanismo acaba sendo uma forma de estreitar laços com prefeitos e cidades em que cada deputado tem seu reduto eleitoral.
Nesta sexta-feira, 1º, o deputado Gil Diniz fez uma publicação criticando a destinação pelo governo de 500 mil reais, destes recursos, para a deputada do PT Thainara Faria. O valor, por indicação da parlamentar, foi enviado ao município de Queiroz, no interior do estado. “A deputada é forte opositora ao governador, é contra a privatização da Sabesp, votou tudo contra o governo, mas, ainda assim está sendo atendida com recursos voluntários”, publicou.
https://x.com/carteiroreaca/status/1730545425587794004?s=20
Bandeiras bolsonaristas
Outra crítica do grupo é ao que classifica como “tentativa de descolamento” de Tarcísio de pautas “ideológicas” do bolsonarismo. Um dos episódios apontados como foco de atrito foi a autorização do governo a um evento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Parque da Água Branca, um equipamento estadual, no qual o grupo instalou uma cela fazendo alusão à prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Também são fartas as queixas sobre acenos feitos por Tarcísio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva — como a defesa à reforma tributária — e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Também há reclamação é sobre a inércia do Executivo, em especial da Secretaria de Educação, para resolver a questão das escolas cívico-militares, grande promessa de campanha de Tarcísio e uma das bandeiras bolsonaristas. Com a mudança na legislação federal, o governo estadual precisa regulamentar a forma de ensino, sob risco de que as unidades sejam descontinuadas já a partir do próximo ano.
Acertos eleitorais
No campo eleitoral, causou desconforto o apoio público de Tarcísio ao pré-candidato à Prefeitura de Santos, Rogério Santos, recém-filiado ao Republicanos — o PL fechou apoio à candidatura da deputada federal Rosana Valle (PL) na disputa. Anteriormente, Bolsonaro já havia anunciado que ele e Tarcísio caminhariam juntos na escolha de um candidato na cidade.
Os acenos do governador à reeleição de Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo, também preocupam. Ainda sem a definição final, a ala bolsonarista do PL cogita uma candidatura de Ricardo Salles. “O problema é o governador se antecipar, fazer gestos a pré-candidatos, sem que o presidente Bolsonaro tenha tomado uma decisão. Vamos pressionar para que ele [Tarcísio] apoie o cara nosso aqui em São Paulo, seja o Salles, seja o Marcos Pontes”, diz um deputado do bloco do PL.
Oposição a Tarcísio?
Por ora, o grupo descarta tornar-se oposição ao governo na Alesp e diz não ver “má vontade” em Tarcísio, mas sim em “alguns de seus auxiliares”. Também anuncia que não deixará de votar a favor de temas que consideram importantes — como o da privatização da Sabesp –, embora já se posicione contra o projeto que deve aumentar o ICMS no estado.
“Existe boa vontade. Só não entendemos se essas as pessoas estão sabotando o governador e o bloco bolsonarista ou se o governador compactua com isso e está intencionalmente deixando a gente de lado”, diz um deputado do grupo.