Delegado: presos por ameaçar Felca eram hackers e vendiam dados policiais
Autoridades acreditam que eles fazem parte de grupo de exploração sexual de crianças e adolescentes que atua na rede social Discord com desafios
O suspeito preso em Pernambuco na segunda-feira, 25, por ameaçar o influenciador Felipe Bressanin Pereira, o Felca, após a forte repercussão do vídeo sobre adultização, era um hacker que vendia informações sigilosas da polícia. A informação foi confirmada pelo delegado responsável do caso, Guilherme Caselli.
Após a prisão de Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, 22, os policiais checaram os equipamentos eletrônicos que estavam com ele e descobriram que ele tinha acesso à plataforma PolíciaAgil, do sistema de segurança pública de Pernambuco, mas que pode obter informações de polícias de outros estados do Brasil. Além disso, conversas dele no WhatsApp apontam que ele vendia informações sigilosas obtidas nesse sistema por 40 reais.
Durante a abordagem, a polícia também prendeu Paulo Vinicius Oliveira Barbosa, 21, que estava com o suspeito. O computador que acessava o sistema da polícia era de Paulo.
“As ameaças estavam acontecendo via e-mail, via WhatsApp e redes sociais. A gente conseguiu proceder com uma série de quebra de sigilos e rastrear a conexão das pessoas que estavam produzindo essas ameaças. No próprio computador, a gente viu registros de pesquisas sobre o Felca e conversas sobre a atuação policial. Eles sabiam que estavam sendo investigados e que o que estavam cometendo era um crime gravíssimo. Por isso o Caio foi preso temporariamente e o Vinícius em situação flagrancial”, disse o delegado.
Um dos dois criminosos chegou a confessar, em depoimento, segundo o delegado, que com acesso ao sistema da polícia de Pernambuco, conseguia consultar dados de qualquer cidadão brasileiro, alterar informações e incluir inimigos na lista de procurados pela Justiça. “Ele confessou que tinha acesso a todos os sistemas de polícias do Brasil, sistemas do poder Judiciário, com mandados de prisão, conseguindo, inclusive, inserir informações de mandados de prisão de qualquer indivíduo, de qualquer inimigo do grupo. Quando entramos no recinto, o computador já estava logado [no sistema], logo na sala, bem exposto, com as informações e as credenciais de um policial militar”, disse o delegado Caselli.
Ambos os criminosos são investigados por ameaça, perseguição, associação criminosa praticada em ambiente virtual e invasão de dispositivo informático. A polícia suspeita que eles fazem parte de um grupo de exploração sexual de crianças e adolescentes que atua na rede social Discord e com desafios.
Há duas semanas, Felca publicou um vídeo nas redes sociais com o título “Adultização”, no qual expôs como a imagem sexualizada de crianças e adolescentes circula nas redes sociais com o apoio dos algoritmos. Um dos vários casos que ele menciona no material é o do influenciador Hytalo Santos, que foi parar atrás das grades. O vídeo teve mais de 48 milhões de visualizações e provocou reações até no Congresso Nacionl, que aprovou na quarta-feira da semana passada o ECA Digital, lei que protege menores de idade nas redes sociais.
Com a repercussão do vídeo, Felca disse ter sofrido várias ameaças, inclusive de morte, motivo pelo qual passou a andar de carro blindado e com seguranças pessoais.
A questão da adultização e da exposição de crianças e adolescentes na internet foi reportagem de VEJA da edição nº 2.957.

