Denúncia de assédio sexual a deputada vira guerra ideológica na Câmara
Julia Zanatta (PL-SC) diz que foi vítima de uma aproximação imprópria de Márcio Jerry (PCdoB-MA), que nega; oposição e bolsonarismo travam duelo de versões
Uma acusação de assédio feita pela deputada federal Julia Zanatta (PL-SC) contra o colega Márcio Jerry (PCdoB-MA) virou uma guerra ideológica de versões entre esquerda e direita na Câmara. A parlamentar, que está em seu primeiro mandato em Brasília, disse que foi alvo de uma aproximação imprópria do parlamentar durante audiência da Comissão de Segurança Pública na terça-feira, 12.
“Nunca dei liberdade para esse deputado e nem sabia qual era o nome dele, mas ele se sentiu livre para chegar por trás de mim”, postou Zanatta sobre o momento em que Jerry se aproxima e fala alguma coisa ao ouvido dela.A senha para a guerra ideológica já veio no primeiro post: “Se fosse uma deputada de esquerda e um deputado de direita: já sabem né?”, provocou.
Nunca dei liberdade para esse deputado e nem sabia qual era o nome dele, mas ele se sentiu LIVRE para chegar por trás de mim.
A sorte que alguém pegou a cena ABSURDA!
Deputado do Partido Comunista do Brasil do estado do Maranhão, Marcio Jerry.
Se fosse uma deputada de… pic.twitter.com/jyD16hSwM1
— Júlia Zanatta (@apropriajulia) April 12, 2023
Jerry se defendeu, disse ser vítima de uma fake news e que se aproximou para pedir que ela respeitasse a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), com quem a catarinense discutia. “Respeite os 40 anos de mandato dela”, teria dito Jerry.
A cena real que a deputada bolsonarista @apropriajulia deturpou, distorceu. Fake news absurda. Apelei a ela para respeitar a deputada @lidicedamata . pic.twitter.com/RBphMkwajm
— Márcio Jerry (@marciojerry) April 12, 2023
Na sequência, começou o fla-flu ideológico em torno do assunto. O PL pediu a cassação do deputado. Já a líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali, foi para cima da deputada e chamou de “fake news” a denúncia. “Trata-se de uma acusação leviana promovida por aqueles que marcam sua atuação política pela construção de inverdades”, publicou em nota assinada pelos sete deputados do partido.
E disse que vai pedir a investigação da deputada. “Inadmissível essa reiterada prática. Tomaremos as medidas necessárias para a apuração das responsabilidades por mais essa inverdade”, afirmou. Zanatta rebateu: “Para a feminista Jandira Feghali (PCdoB) quem deve ser investigada sou eu e não o colega de partido dela”, disse.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) não só entrou no debate, como ampliou a temperatura ideológica ao lembrar das críticas ao colega Nikolas Ferreira (PL-MG), que usou uma peruca na tribuna no Dia Internacional da Mulher para criticar os transgêneros. “Nikolas bota peruca > transfobia. Comunista cheira cangote de deputada de direita > normal. A esquerda é doente e acha que você é otário”, postou.
Carla Zambelli (PL-SP) também mirou a esquerda. “É inacreditável! Além de assediar, ainda tenta pintá-la como culpada pelo assédio?! Atitude asquerosa”, disse. Mário Frias (PL-SP) foi na mesma toada. “O deputado do PCdoB, Marcio Jerry, tem que ser devidamente punido! Imaginem se fosse um deputado aliado do presidente Bolsonaro?! Certamente sairia algemado”, afirmou.
Vários parlamentares, até mesmo de fora da esquerda, mas que apoiam o governo Lula, saíram em defesa de Jerry. André Janones (Avante-MG), prestou solidariedade ao colega “que está sendo acusado caluniosamente de assédio”.
A discussão extravasou os limites da Câmara e chegou ao Senado. “O assédio e a violência sexual são causas reais e esta é uma luta diária, uma causa que não podemos brincar, muito menos usar como parte de disputa política. Os vídeos mostram claramente que o deputado Márcio Jerry não assediou a parlamentar”, postou a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Na verdade, extravasou até para fora do Congresso. “Todo mundo já sabe que a denúncia de assédio sexual feita pela deputada da extrema direita contra o deputado Marcio Jerry é falsa. Não passa de uma manipulação grosseira de um vídeo em que ele discute com ela”, disse a ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB). “Entre a palavra de uma deputada odiosa, mentirosa e apologista das armas e a de um deputado que não mente e luta por justiça social, eu fico com a palavra dele”, postou o ex-deputado Jean Wyllys.
Polêmica
Zanatta se tornou conhecida nacionalmente logo na sua estreia como deputada federal ao postar, em março de 2023, uma foto empunhando uma arma e usando uma camiseta onde se via uma imagem de uma mão com quatro dedos cravejada de balas (no que foi visto como uma referência ao presidente Lula) e a frase, em inglês. “Venha pegar”. O PT e outros partidos de esquerda entraram com uma representação contra a parlamentar no Supremo Tribunal Federal e na Comissão de Ética da Câmara.
Em meio à nova polêmica, Zanatta foi nesta sexta-feira, 14, visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle postou foto com eles nas suas redes sociais, agradecendo o apoio. “Estamos mais unidos do que nunca”, escreveu.
Ontem estive com o presidente @jairbolsonaro e com a nossa presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, e aproveitei para entregar a nova camisa do @CriciumaEC, campeão catarinense de 2023.
Quero agradecer a todos do meu partido, o PL, na figura do líder @altineucortesrj e do… pic.twitter.com/uN5CbzUs5N
— Júlia Zanatta (@apropriajulia) April 14, 2023