Cliente frequente dos serviços do departamento de propinas da Odebrecht, que tratava de encaminhar pagamentos de caixa dois pela empreiteira no exterior, Mônica Moura era conhecida dentro da empresa pelo apelido de “Feira”, referência à cidade onde ela nasceu, Feira de Santana (BA), e ao sobrenome de seu marido, o marqueteiro João Santana.
Em sua delação premiada, contudo, Mônica relatou aos procuradores do Ministério Público Federal que Fernando Migliaccio, um dos principais operadores dos pagamentos ilícitos da Odebrecht, escondeu dela o significado de “Feira” nas planilhas de caixa dois da empreiteira.
“’A gente aqui tem apelidos, Feira é uma modalidade de pagamento. Toda vez que é campanha presidencial, é via Feira, quando é campanha de deputado, que a gente ajuda bastante, tem outra modalidade’”, teria dito a ela Migliaccio, em um encontro em que a mulher de Santana notou a palavra em um documento e quis saber do que se tratava.
Mônica confiava tanto no executivo, responsável pelo envio de milhões de dólares a uma conta mantida pelo casal na Suíça, que duvidou até dos rumos da investigação da Lava Jato, mas jamais da palavra de Migliaccio. “Quando fui presa e comecei a ouvir um burburinho de ‘você é Feira, você é Feira’, eu lembrei disso e pensei ‘gente, isso não é verdade, eles estão indo pelo caminho errado, esse não é o apelido de ninguém’”, relatou.
“Não sei se ele quis me esconder que era eu que eles chamavam de Feira, porque depois ele falou e a Maria Lucia [ex-secretária do departamento de propinas] falou que eu era a Feira, que era meu apelido lá. Talvez ele não quisesse que eu soubesse do meu apelido que eu tinha lá dentro”, concluiu ela em sua delação.