Data em que tradicionalmente é celebrada a emancipação brasileira do domínio português e a autonomia das instituições nacionais, o 7 de Setembro tornou-se quase indissociável, nas redes sociais, das pautas ligadas ao bolsonarismo e à direita radical — entre elas, predomina a defesa do impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Um relatório do instituto Democracia em Xeque, que monitora o discurso político e o radicalismo nas plataformas digitais, indica que as publicações que convocam a população para os atos do próximo sábado têm como elementos intrínsecos os ataques a Moraes e o apoio a Jair Bolsonaro — o ex-presidente participará de manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, organizada pelo pastor Silas Malafaia.
Entre os principais influenciadores associados ao termo “7 de setembro” nas redes, destacam-se políticos ligados ao bolsonarismo, como os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Ricardo Salles (PL-SP) e Marcel van Hattem (Novo-RS) e o ex-deputado Deltan Dallagnol (Novo).
O levantamento Democracia em Xeque, realizado em conjunto com o Observatório de Conflitos na Internet (UFABC) e apoio da Fundação Heinrich Böll, analisou 923 publicações no Instagram, YouTube, X (ex-Twitter) e TikTok, além de 158 mil posts de usuários que curtiram, comentaram ou compartilharam o conteúdo original.
Musk e aliados incitam briga contra Moraes
Um dos perfis que geraram mais repercussão com publicações sobre o 7 de Setembro é do americano Michael Shellenberger. Em abril, o jornalista foi responsável pelo caso “Twitter Files Brazil”, quando foram vazados emails de funcionários brasileiros do X com alegados indícios de censura e abuso de poder judicial por Moraes.
Shellenberger tem relação próxima com Elon Musk, controlador do X, que também vem aproveitando a movimentação em torno do 7 de Setembro para avançar em sua cruzada contra a Justiça brasileira. Desde que Moraes determinou o bloqueio da rede no Brasil, em 30 de agosto, o bilionário publicou centenas de tuítes contra o ministro e repercutiu pedidos de impeachment e convocações para os protestos, compartilhando publicações de brasileiros que burlam a suspensão da plataforma utilizando VPNs.
Enrolado na Justiça, Bolsonaro evita tema do impeachment
O próprio Jair Bolsonaro, temeroso de novos desdobramentos a respeito de sua já complicada situação na Justiça, avisou ao STF que o impeachment de Moraes não fará parte de seu discurso no 7 de Setembro e pediu que apoiadores não levem faixas à Avenida Paulista defendendo a pauta. Na quinta, no entanto, em Minas Gerais, chamou o ministro de “autoritário” e disse que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, era “uma vergonha” por não dar andamento a pedidos de seu afastamento.
O acompanhamento de grupos do Telegram aponta que o ex-presidente, de fato, tem sido cauteloso ao abordar as manifestações para não incorrer em possíveis demonstrações antidemocráticas em suas falas. Segundo o estudo do Democracia em Xeque, entre os dias 28 e agosto e 3 de setembro, a mensagem mais lida nos canais monitorados foi um post de Bolsonaro, visualizado 150 mil vezes, contendo apenas o texto “07/09”.
A mesma moderação, por outro lado, não vem sendo adotada por aliados do ex-mandatário. No período analisado, a mensagem mais compartilhada (210 vezes) veio de Nikolas Ferreira, contendo uma lista de deputados que teriam assinado o pedido de impeachment de Moraes. Outro post destacado no relatório foi publicado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), no qual endossa o pedido de remoção do ministro do STF e alardeia sobre prejuízos econômicos ao país devido ao “fechamento ilegal” do X.