Justiça condena manifestante que matou cinegrafista com rojão em 2014
Artesão recebe sentença de doze anos por lesão corporal seguida de morte; vítima cobria protestos pela TV Bandeirantes
O artesão Caio Silva de Souza foi condenado nesta quarta-feira, 13, a doze anos de prisão pela morte do cinegrafista Santiago Andrade com um rojão durante um protesto no Rio de Janeiro. O caso ocorreu em 2014 e somente agora, quase dez anos depois, o manifestante recebeu a sentença pelo júri popular — ele poderá recorrer em liberdade.
Inicialmente, Caio Silva e outro réu, o tatuador Fábio Raposo, foram acusados de homicídio doloso pelo disparo do artefato que atingiu e matou Andrade. Contudo, após quase doze horas de julgamento e mais de vinte depoimentos de testemunhas, o 3º Tribunal do Júri concluiu que não houve intenção de matar o cinegrafista, e a juíza Tula Correa de Mello decidiu pela condenação por lesão corporal seguida de morte.
Na mesma sessão, Raposo foi absolvido. Segundo a versão aceita pelo tribunal, o tatuador pegou um artefato no chão durante o protesto, sem saber que se tratava de um rojão, e Silva se aproximou dele e pediu que o entregasse o objeto, acendeu-o com um isqueiro e, em seguida, ambos deixaram o local sem perceber que o disparo havia atingido Andrade.
Relembre o caso
Em 6 de fevereiro de 2014, no contexto dos protestos generalizados que eclodiram no ano anterior contra o governo Dilma Rousseff, Santiago Andrade atuava na cobertura de uma manifestação pela TV Bandeirantes. Os atos ocorriam perto da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e tinham como pauta específica o descontentamento com a alta da passagem de ônibus na capital fluminense.
No momento do crime, a Polícia Militar estava em confronto com os manifestantes para conter a escalada da violência. Durante a confusão, Caio Silva e Fábio Raposo acenderam um rojão e dispararam sem direção específica, que acabou atingindo o cinegrafista, e deixaram o local em seguida. Andrade chegou a ser socorrido e internado, mas morreu no hospital quatro dias depois.
Silva e Raposo chegaram a ser presos em 2014 e 2015, mas foram libertados e puderam responder em liberdade. A tramitação do caso foi atrasada por uma série de recursos, desde a primeira instância da Justiça do Rio até o Superior Tribunal de Justiça (STJ) – em 2017, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes confirmou a acusação e determinou que os réus fossem julgados pelo tribunal do júri.