A Justiça do Rio de Janeiro decidiu nesta quinta-feira, 18, manter presa Érika de Souza Vieira Nunes, presa por levar o cadáver do tio, Paulo Roberto Braga, para fazer um empréstimo de 17 mil reais em uma agência bancária em Bangu, na capital fluminense. Ela passou por audiência de custódia e responderá as investigações atrás das grades.
A advogada da mulher, Ana Carla de Souza Correa, disse a VEJA estar “indignada” com a decisão. De acordo com o que ela informou no processo, Érika não tem antecedentes criminais e possui endereço fixo. Ela é dona de casa e tem uma filha menor de idade sob seus cuidados.
Mesmo assim, a Justiça decidiu mantê-la presa preventivamente para “garantia de aplicação da lei penal e da ordem pública”. A polícia autuou o caso como tentativa de furto e vilipêndio de cadáver, crimes cujas penas, somadas, chegam a onze anos.
O caso de Érika aconteceu na tarde de terça-feira, 16, e teve grande repercussão, por causa do vídeo que a mostra segurando a cabeça e aos mãos do corpo do tio para que ele assinasse o documento do empréstimo. A atendente do banco suspeitou que o homem não estava bem e acionou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que constatou o óbito.
“O que salta aos olhos e incrementa a gravidade da ação é que, em momento nenhum, a custodiada se preocupa com o estado de saúde de quem afirmava ser cuidadora. Os funcionários do banco que, notando aquela cena vexatória e cruel, acionaram o socorro. O ânimo da indiciada se voltava exclusivamente a sacar o dinheiro, chegando ao ponto de fazer o senhor Paulo segurar uma caneta para demonstrar que estaria assinando o documento”, diz a decisão da juíza Rachel Assad da Cunha, que conduziu a audiência de custódia.
O laudo de necropsia afirma que não é possível cravar que ele já estava morto quando entrou na agência bancária. “O perito não tem elementos seguros para afirmar do ponto de vista técnico e científico se o senhor Paulo Roberto Braga faleceu no trajeto ou no interior da agência bancária”, diz o documento.
A causa da morte constatada foi “broncoaspiração do conteúdo estomacal e falência cardíaca”. No entanto, o corpo vai passar por exames toxicológicos para avaliar se houve intoxicação. O estado em que o homem estava também foi usado pela juíza como argumento para manter Érika na prisão. “Assim, ainda que a custodiada não tenha notado o exato momento do óbito, era perceptível a qualquer pessoa que aquele idoso na cadeira de rodas não estava bem. Diversas pessoas que cruzaram com a custodiada e o senhor Paulo ficaram perplexos com a cena, mas a custodiada teria sido a única pessoa a não perceber?”
A Polícia Civil do Rio de Janeiro está ouvindo testemunhas para entender detalhes sobre o episódio. Um motorista de aplicativo, que levou Érika e seu tio, Paulo Braga, no dia da morte, disse que o homem estava vivo e chegou a segurar na porta do carro antes de entrar.