Lula não fica roxo de vergonha ao prometer dar um jeito no BNDES
O presidenciável falou de políticas a serem adotadas para o mesmo banco que amargou prejuízos enormes por investimentos realizados nos governos petistas
Em campanha nesta quarta, 20, em Garanhuns, cidade natal de Lula no interior de Pernambuco, o presidenciável petista desfilou uma enorme lista de promessas, que vão de abaixar o preço do petróleo a acabar com a inflação — tudo isso, é claro, sem detalhar como pretende resolver problemas tão complexos com um passe de mágica. Bravatas de palanque à parte, chamou atenção no discurso o momento em que ele afirmou que vai colocar novamente o BNDES nos eixos, a serviço do financiamento das empresas brasileiras. Em entrevistas e aparições públicas anteriores, Lula já vinha falando do banco e do direcionamento que pretende dar a ele num possível futuro governo, privilegiando pequenas e médias companhias.
Mesmo em um país de memória curta e no qual políticos não ficam enrubescidos ao vender terrenos na lua em cima dos palanques, a promessa de Lula sobre BNDES chama atenção. Considerando-se o complicado histórico de seu governo no trato com esse mesmo banco, é surpreendente que o ex-presidente não se vexe de dar receitas de como a gestão poderia se melhorada. Foi justamente a política do governo petista que gerou mais problemas naquele período, sobretudo na insistência do projeto de criar as chamadas “campeãs nacionais”.
Como se sabe, o projeto em questão consistiu em injetar bilhões de reais em empresas como a OI, BRF e a EBX, de Eike Batista. Os negócios não prosperaram e boa parte deles rendeu processos por suspeita de favorecimento. O grupo EBX foi à bancarrota e Eike passou um tempo na prisão. A OI não teve melhor sorte, mesmo com o impulso do BNDES dos anos Lula: entrou em recuperação judicial em 2016, com dívidas de 65,4 bilhões de reais.
Outro ponto polêmico da era petista no BNDES foi o apoio do banco a projetos no exterior. Beneficiadas com cerca de 11 bilhões de reais (2,1 bilhões de dólares) em financiamentos para obras de infraestrutura executadas por empreiteiras brasileiras durante os governos Lula e Dilma Rousseff, Cuba e Venezuela têm aplicado sucessivos calotes nos pagamentos e mantêm ainda expressivas faturas penduradas no balcão do BNDES. As dívidas a vencer das duas ditaduras somam mais de 600 milhões de dólares. Mesmo com todo esse histórico, Lula confia que tem a receita certa para o BNDES em um possível futuro governo. Autocrítica, então, nem pensar.