‘Não estou surpreso’. Foi assim que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, reagiu ao saber que está entre os supostos alvos do “sistema paralelo” de espionagem ilegais da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sob a gestão do hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), principal alvo da operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira, 25. Maia disse que, se comprovadas as suspeitas da PF, tomará “medidas cabíveis” contra o parlamentar. “É preciso acabar com a percepção de que o crime contra a democracia é menor”, afirmou.
Além do ex-deputado, a PF desconfia que autoridades como os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e o ex-governador do Ceará, Camilo Santana, hoje titular da Educação, tenham sido alvos do esquema de espionagem paralela na Abin. Investigadores também apuram se a estrutura da agência também foi utilizada para favorecer os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, Flávio e Jair Renan, em processos dos quais foram alvos.
Operação da PF
A PF deflagrou nesta quinta-feira a Operação Vigilância Aproximada, que cumpriu 21 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas da prisão, incluindo a suspensão imediata do exercício das funções públicas de sete policiais federais, cujos nomes não foram revelados. As diligências ocorrem em Brasíliq, Juiz de Fora (MG), São João Del Rei (MG) e Rio de Janeiro. As ordens contra Ramagem foram cumpridas em endereços dele e no gabinete na Câmara dos Deputados.
Ao autorizar as buscas, o ministro Alexandre de Moraes citou as supostas ações ilegais da Abin paralela contra Maia e a ex-deputada Joice Hasselmann, dois notórios desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro. “A Polícia Federal indica, também, que os investigados, sob as ordens de Alexandre Ramagem, utilizaram a ferramenta First Mile para monitoramento do então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e da então deputada federal Joice Hasselmann”, escreve o ministro.
Eleição
Rodrigo Maia, que deixou oficialmente a vida pública e hoje trabalha no setor privado, ainda criticou, em nota, o fato de Ramagem aparecer como pré-candidato do PL à prefeitura do Rio de Janeiro para a eleição municipal deste ano. “Me surpreende muito uma pessoa que desrespeitou a democracia, a Constituição, a Casa do Povo e usou o Estado para monitorar as pessoas, hoje é deputado federal e ainda quer ser prefeito do Rio de Janeiro”, afirmou. “É a raposa cuidando do galinheiro na Câmara dos Deputados, e é essa mesma pessoa que poderia usar o aparelho de uma prefeitura poderosa como a do Rio de Janeiro contra os seus adversários”, disse.