Mentira, ‘pé-frio’ e ‘esse vírus aí’: a desastrada live de Bolsonaro
Presidente diz ser de 2015 vídeo com a facada de 2018, usa camisa do Fortaleza, que é eliminado de torneio no fim do jogo, e não fala de coronavírus no país
Todas as quintas-feiras, por volta das 19h, o presidente Jair Bolsonaro realiza uma transmissão ao vivo em suas redes sociais. O espaço é usado para abordar, de maneira informal, assuntos de destaque da semana e ressaltar feitos do governo que, segundo o presidente, parte da imprensa não divulga. Nesta quinta-feira 27, porém, Bolsonaro protagonizou uma desastrada live: utilizou informação falsa para atacar uma jornalista, foi “pé-frio” ao se envolver com futebol e citou o coronavírus apenas para justificar a alta do dólar, sem tocar nas medidas para combater o problema, que tomaram o noticiário durante todo o dia.
No Carnaval, Bolsonaro divulgou, a alguns de seus contatos no WhatsApp, dois vídeos de convocação para as manifestações programadas para 15 de março em apoio ao governo e contra o Congresso Nacional. Uma das peças afirma que “o Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”. O compartilhamento resultou em uma nova crise na já conturbada relação do Executivo com o Legislativo. Em sua live, Bolsonaro disse que o vídeo divulgado era sobre manifestações convocadas para 2015 – quando as ruas foram palcos de vários protestos contra a então presidente Dilma Rousseff –, e não de 2020. Ele chegou a dizer que estava com um semblante diferente, “mais jovem”.
“Esse vídeo deve estar rodando por aí, vou botar no meu Facebook daqui a pouco. É um vídeo que eu peço o comparecimento do pessoal no dia 15 de março de 2015, que, por coincidência, foi num domingo, e daí, pelo que parece, né, Vera Magalhães (jornalista que revelou a informação), você pegou esse vídeo”, diz. Os dois vídeos, porém, mostram imagens da facada que Bolsonaro, então candidato à Presidência, levou em Juiz de Fora, em Minas Gerais, no dia 6 de setembro de 2018, em um ato no primeiro turno de campanha.
Ainda na esteira dos ataques à imprensa, Bolsonaro disse que, no início de março, quando se reunirá com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), pedirá que empresariado não faça anúncios em “jornal que mente o tempo todo, trabalha contra o governo”.
‘Pé-frio’
Em suas lives, é comum ver Bolsonaro vestindo camisas dos mais variados times de futebol, mesmo sendo torcedor declarado do Palmeiras. Nesta quinta-feira, Bolsonaro fez uma homenagem ao Fortaleza, comandado pelo ex-goleiro Rogério Ceni. O time do Nordeste jogou em seu estádio, a Arena Castelão, contra o Independiente, da Argentina, pela Copa Sul-Americana – esta foi a primeira participação do Leão do Pici, como é conhecida a equipe, em um torneio internacional.
“Estou com a camisa do Fortaleza. Hoje a noite temos aqui Fortaleza contra o Independiente, da Argentina. Lá [na Argentina], o Fortaleza perdeu de 1 a 0, mas tenho certeza que hoje vai ser 2 a 0 para o Fortaleza. Por isso que eu estou aqui, torcendo para um time do Brasil contra um time da Argentina, o que é normal acontecer. Convocar o pessoal para ir ao estádio e, quem não for, assista na televisão, porque vai ser um bom jogo”, disse o presidente. Bolsonaro acertava o resultado, que classificaria o time brasileiro para a próxima fase da competição, até os 47 minutos do segundo tempo, quando o lateral Bustos, do Independiente, marcou o gol que eliminou a equipe cearense.
Coronavírus
Na live, Bolsonaro também falou sobre o coronavírus – na quarta-feira 26, o Brasil teve o primeiro caso confirmado no país. O presidente da República atribuiu a alta do dólar, que fechou esta quinta-feira a 4,477 reais, novo recorde nominal, ao surto da doença.
“Estamos tendo problema nesse vírus aí, o coronavírus. O mundo todo está sofrendo. As bolsas estão caindo no mundo todo, com raríssimas exceções. O dólar também está se valorizando no mundo todo, e no Brasil o dólar está 4,40 reais. A gente lamenta, porque isso aí, mais cedo ou mais tarde, vai influenciar naquilo que nós importamos, até no pão, o trigo. Vai influenciar”, disse. Nas redes sociais, o presidente da República foi criticado pela maneira como se referiu ao assunto, sem citar a questão de o vírus ter chegado ao país e as medidas do governo para evitar uma epidemia da doença.