MP denuncia sete guardas-civis por milícia e venda de armas na Cracolândia
Investigação mostra GCMs envolvidos na extorsão de comerciantes e negociações de armamento, sistema de comunicação por rádio e até remédio abortivo
O Ministério Público de São Paulo apresentou denúncia contra quatro guardas-civis pela formação de milícia para extorquir comerciantes do centro da capital paulista. Outros três integrantes da corporação e mais dois outros investigados foram denunciados por venda de armas para criminosos, sistemas de comunicação por rádio e até remédio para aborto ilegal.
As denúncias são resultado da Operação Salus et Dignitas que teve como alvo o tráfico de drogas e a atuação da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) na região conhecida como Cracolândia, que aglomera usuários de drogas em meio a hoteis de fachada, desmanches e lojas de tecnologia investigadas por receptação de itens roubados e outras atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro da facção.
Segundo a investigação, Elisson de Assis, Tiago Moreira da Silva, Antonio Carlos Amorim e Renata Scorsafava pediam uma “taxa de segurança” aos comerciantes. Somadas, as movimentações encontradas pelo Ministério Público ultrapassam 7 milhões de reais. Tratam-se de depósitos bancários e transações via PIX, feitas de forma fracionada, para dissimular os valores da milícia privada, de acordo com os promotores que apresentaram a denúncia.
A investigação mostra que Antônio Carlos Amorim Oliveira movimentou as maiores quantias de dinheiro proveniente da atividade miliciana – mais de 6 milhões de reais entre julho de 2020 e maio de 2022. A extorsão rendeu a Elisson de Assis, entre 1ª de julho de 2021 e 21 de julho de 2023, 861.140 reais. Tiago Moreira da Silva recebeu 106.166 reais entre julho de 2021 e março de 2022. Na conta de Renata Oliva de Freitas Scorsafava, o MPSP encontrou 81.080 reais e depósitos de 16.690 reais para seu marido de verba que supostamente tinha como origem a atividade miliciana.
Aúdio mostra extorsão
Um áudio encontrado pelos investigadores esclarece como funcionava a extorsão praticada pelos guardas-civis metropolitanos para constranger comerciantes a aderirem ao serviço. Elisson de Assis afirma que caso aconteça algo com algum dos comerciantes que pagam pela “proteção e segurança”, dezoito integrantes da guarda iriam de forma imediata à porta da pessoa para garantir segurança.
“Isso denota a existência de uma milícia organizada dentro da Guarda Civil Metropolitana do Município de São Paulo, a qual, inclusive, presta serviços de segurança privada durante o plantão do serviço público, direcionando os recursos públicos a quem realiza pagamentos particulares às empresas de segurança integradas por guardas-civis”, diz o inquérito.
Venda ilegal de armas
Além das atividades milicianas, outros três guardas municipais — Rubens Alexandre Bezerra, Elias Silvestre da Silva e Ednaldo de Almeida Passos — foram denunciados por venda ilegal de armas e outras negociações ilícitas. Além dos integrantes da GCM, outros dois investigados, Edno Sousa da Silva e Odair José Gonçalves Rodrigues, também foram denunciados. Entre 11 de outubro de 2019 e janeiro de 2023, o grupo teria feito ao menos dez vendas de armas.
Segundo os investigadores, Rubens Alexandre Bezerra é figura central do esquema criminoso. Ele foi flagrado participando diretamente da negociação ilegal de armamento – em duas oportunidades junto com Ednaldo de Almeida Passos e outras três com Odair José Gonçalves Rodrigues. Há indícios, porém, que o investigado não vendia apenas armamentos e munições. Agentes encontraram, em cumprimento de mandado de busca e apreensão, 147 módulos de motocicletas sem origem lícita comprovada e três caixas com peças de motocicletas. A investigação aponta ainda que em abril de 2021, Rubens e Odair teriam vendido um medicamento utilizado para aborto ilegal.
Rubens também teria feito ao menos seis operações para bloquear, rastrear e detectar sinais de radiofrequência. Em junho de 2020, Edno Sousa e Silva pede a Rubens um aparelho “Jammer” de oito antenas, usado para interromper sinais de rádio. Ele responde que só teria um de seis antenas e venderia a 2.800 reais. Em 2022, Rubens negocia um detector de sinal, que custou entre 2.000 reais e 2.500 reais.