Aliados de Jair Bolsonaro têm feito os ajustes finais do ato em apoio ao ex-presidente que acontece neste domingo, 21, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Os principais temas do evento serão a “defesa à democracia e à liberdade de expressão” e o que o entorno bolsonarista tem classificado como “violação de prerrogativas” empreendidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente.
Na quinta-feira, 18, Bolsonaro publicou um vídeo conclamando apoiadores para a manifestação e pedindo, assim como foi feito no ato de 25 de fevereiro na Avenida Paulista, que não sejam levadas faixas, cartazes ou quaisquer outros itens com dizeres contra “quem quer que seja”. A preocupação é que manifestações desse tipo sejam usadas como “pretexto” para que haja medidas duras do STF contra participantes e organizadores do ato.
“No momento em que o mundo todo toma conhecimento do quanto está ameaçada a nossa liberdade de expressão e de quanto estamos perto de uma ditadura, é que faço um apelo a você: vamos fazer o nosso ato pacífico em defesa da democracia, pela nossa liberdade”, diz Bolsonaro no vídeo divulgado. “O que está em jogo é o futuro de todos nós. Sem cartazes, sem qualquer faixa. Vamos fazer essa manifestação que novamente servirá como fotografia para o mundo e para discutirmos realmente o nosso Estado Democrático de Direito”, prosseguiu.
Nesta sexta-feira, 19, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro gravou um vídeo com outras mulheres do Partido Liberal (PL) pedindo o apoio feminino ao ato. Deputadas da sigla, como Bia Kicis (DF), Rosava Valle (SP) e Caroline De Toni (SC) aparecem na gravação chamando “as mulheres do Brasil” para se reunirem em apoio à democracia e à “construção de uma sociedade mais justa”.
Participantes
Com dezenas de deputados e senadores presentes, deverão abrir os discursos no trio elétrico os deputados Marco Feliciano (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador Magno Malta (PL-ES). Na sequência, estão previstos os pronunciamentos da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do pastor Silas Malafaia — que promete subir o tom contra Alexandre de Moraes — e, por fim, de Bolsonaro.
Também deverão estar presentes ao menos cinco governadores alinhados a Bolsonaro e que, em maior ou menor grau, se colocam como herdeiros do espólio político do ex-presidente — Cláudio Castro (Rio de Janeiro), Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás) e Jorginho Mello (Santa Catarina).
Para viabilizar o evento, cerca de 25 parlamentares doaram cotas de 5.000 reais cada. O total de 125.000 reais deverá cobrir despesas com itens como o aluguel de dois trios elétricos, grades, filmagem e seguranças.
Musk e Moraes
Principal mote do evento, a defesa à democracia seguirá na ordem do dia, mas deverá ser “turbinada” pelos acontecimentos desta semana envolvendo um relatório divulgado pelor deputados americanos a respeito da conduta do ministro Alexandre de Moraes. Segundo aliados do ex-presidente, o documento é mais uma prova das medidas “antidemocráticas” levadas a cabo por Moraes no Brasil.
Publicado na quinta-feira, 17, pela ala republicana da Comissão de Justiça do Congresso dos Estados Unidos, o relatório traz mais de noventa ordens judiciais sigilosas enviadas à rede social para derrubar perfis na plataforma. Com 540 páginas, a publicação reúne ainda manifestações de deputados que classificam Moraes como “ditador”, mencionam a investigação determinada pelo ministro contra Elon Musk, dono do X, e elogiam a postura do bilionário por “se recusar a acatar os pedidos de censura do STF, notavelmente vindos de Moraes”.
Na última semana, Musk começou a disparar contra o Supremo acusações de censura e de conspiração para a eleição de Lula. Após o arroubo, o empresário foi incluído no chamado inquérito das milícias digitais, relatado por Moraes, que acusou o sul-africano de ter iniciado uma campanha de desinformação sobre a atuação do STF e do TSE, instigando a “desobediência e obstrução à Justiça, inclusive, em relação a organizações criminosas”.
Minuta de golpe
Segundo anunciado pelo próprio ex-presidente, um dos assuntos abordados será o que o entorno bolsonarista classifica de “fake news” a respeito da minuta de golpe encontrada pela Polícia Federal nos arquivos do celular do tenente-coronel Mauro Cid. O caso foi revelado por VEJA em junho do ano passado. Segundo investigação da Polícia Federal aberta para apurar o episódio, a peça seria uma das provas da implicação do envolvimento de Bolsonaro com uma conspiração para continuar no poder após a derrota eleitoral para Lula.
No ato em São Paulo, Bolsonaro já havia falado sobre o tema. Em seu discurso, se disse vítima de “violação de prerrogativas” nos processos dos quais é alvo no Supremo, pediu anistia a parte dos presos nos atos de 8 de janeiro de 2023 e negou qualquer tentativa de golpe. “O que é golpe? Golpe é tanque na rua, é arma, é conspiração. É trazer classes políticas para o seu lado, empresariais. É isso que é golpe. Nada disso foi feito no Brasil”, disse.