Na pandemia, Bolsonaro e Pazuello se reuniam no máximo uma vez por semana
'Menos do que eu gostaria', foi a resposta do ex-titular da Saúde quando questionado sobre a frequência das reuniões na maior crise sanitária em um século
Na maior crise sanitária mundial em um século, o presidente e o ministro da Saúde do Brasil praticaram distanciamento social entre si, com reuniões a cada duas semanas, ou, na melhor das hipóteses, semanalmente. O relato sobre a frequência de seus encontros com Jair Bolsonaro foi feito pelo próprio ex-ministro Eduardo Pazuello, à frente da pasta da Saúde entre maio de 2020 e março de 2021, à CPI da Pandemia no Senado.
Indagado pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), logo no início da sessão, sobre a periodicidade das reuniões com Bolsonaro, o general respondeu “menos do que eu gostaria”, e atribuiu a falta de interlocução com o presidente às “agendas” de cargos tão “complicados”.
“Eu preferia ter encontrado mais vezes com ele. Acredito que a relação com o presidente precisaria, poderia ser maior ainda, mas os cargos são complicados, as agendas são complicadas, e eu o via uma vez por semana, a cada duas semanas, era o que a gente conseguia conversar. Se eu pudesse voltar atrás, teria ido mais vezes atrás do presidente para conversar com ele”, disse o ex-ministro aos senadores da CPI. “As conversas eram em altíssimo nível, para trazer soluções”, completou.
Assim como o presidente, Eduardo Pazuello também respondeu a Renan que gostaria de ter tido mais encontros com os filhos do presidente, cuja influência nas decisões do governo em meio à pandemia foi questionada pelo relator. “Achava que ia me encontrar mais com eles, não houve isso, a pandemia nos consumia o dia inteiro, foi muito pouco encontro, podia ter havido mais”, afirmou, sendo interrompido pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho Zero Um do presidente, com a sugestão de que continuem dialogando.
Desde o início de seu depoimento à CPI da Pandemia, Pazuello tem reiterado que não recebia ordens diretas do presidente sobre a condução da pandemia, a exemplo da promoção do chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19, com medicamentos sem eficácia comprovada no combate à doença, como a cloroquina. Segundo o ex-ministro, Bolsonaro tinha preocupação de que levassem ao então ministro orientações atribuídas a ele, mas não passadas diretamente ao chefe da Saúde.
“Ele dizia ‘se falarem qualquer coisa pra você dizendo que é no meu nome, não fui eu, só aceite qualquer coisa que eu te fale, observações só minhas, não aceite ninguém dizer que falou comigo, ninguém vai falar em meu nome’”, relatou. Ele também negou que sua gestão sofresse influência de um gabinete paralelo da Saúde, formado por médicos com influência no entorno de Bolsonaro. “Não quero dizer com isso que qualquer pessoa, principalmente o presidente, não ouça, levante dados, procure avaliar o que está acontecendo em volta dele. Seria absurdo o presidente não ouvir opiniões”.