Durante a convenção do PRTB que selou a escolha do partido pelo coach Pablo Marçal como candidato à prefeitura de São Paulo, o cerimonial brincou várias vezes com o anúncio do vice, chamando o evento de “chá de revelação”. O trocadilho não foi à toa: quebrando a expectativa de que o número 2 da chapa fosse o filho do ex-presidenciável Levy Fidelix, Marçal revelou o nome de Antônia Barbosa de Jesus, cabo da Polícia Militar de São Paulo.
Diferentemente do coach, Antônia nunca foi candidata ou participou da cena política institucional. Casada, negra, cristã, mãe de dois filhos e policial militar há 23 anos, teve o nome escolhido por ser uma pessoa que, na fala do próprio Marçal, “conhece a periferia da cidade” e saberia, por isso mesmo, quais são os problemas enfrentados pelos paulistanos.
O discurso feito por Antônia neste domingo, 4, contra o aborto, em defesa da família e da segurança pública revela que a escolha do seu nome dialoga com pautas caras à direita, espectro político adotado por Marçal e segmento em que ele precisa angariar votos. Durante a convenção, o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, foi enfático em dizer que a sigla é o único partido “de direita conservadora”, enquanto o prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), foi um alvo constante. “Ele nunca assumiu a prefeitura de São Paulo”, disse Marçal sobre o emedebista.
Levantamento feito pela Genial/Quaest no último dia 30 mostra que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), único candidato da esquerda, está tecnicamente empatado com Nunes e com o apresentador de TV José Luiz Datena, todos com 19% a 20% da preferência do eleitorado. Marçal vem logo atrás, com 12%, seguido da deputada Tabata Amaral (PSB), com 5%. Na reta final das convenções, a cena é de uma direita fragmentada contra um candidato apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva correndo sozinho dentro do seu espectro.
Para crescer nas pesquisas e ter uma chance de ir ao segundo turno, Marçal tem apostado na estratégia de alimentar conflitos com os outros candidatos da direita. Ele chegou fixar a no topo de seu perfil no Instagram uma foto ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro e refere-se a si mesmo como único nome conservador da disputa.
É tentando tirar votos dos seus iguais ideológicos que o coach goiano tem chances de ganhar mais fôlego na corrida pela prefeitura de São Paulo — caminhada que agora faz com todas as bandeiras carregadas pela sua vice.