Nos últimos trinta anos, as taxas de aquecimento e elevação do nível dos oceanos sofreram acelerações drásticas, e os mares em todo o planeta atingiram patamares de volume, temperatura, acidez e poluição sem precedentes na história recente da humanidade. A conclusão consta no estudo State of the Ocean Report, publicado na segunda-feira, 3, pela Unesco (braço das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), que alerta para os efeitos potencialmente catastróficos da ação humana sobre as águas marinhas.
De acordo com o relatório, a temperatura média dos oceanos cresce em velocidade cada vez mais alarmante, chegando a 21,2ºC nas medições mais recentes. Os dados apontam que as águas esquentaram 0,4 ºC ao longo da década passada e outros 0,4ºC desde 2023 — na prática, a taxa de aquecimento dos mares dobrou nos últimos vinte anos, e a tendência é que o calor oceânico quebre novos recordes ao longo de 2024.
Na média global, as águas estão 1,45ºC mais quentes do que os níveis pré-industriais, e a elevação supera 2ºC em diversos focos dos oceanos — é o caso do Atlântico Sul, que banha toda a costa brasileira. Além de ameaçar a biodiversidade marítima e desequilibrar cadeias alimentares, o fenômeno influencia o deslocamento de massas de ar e pode agravar catástrofes climáticas, como ocorreu com as chuvas no Rio Grande do Sul.
Expansão das águas e elevação dos mares
Outra consequência desastrosa deste aquecimento é acelerar o ritmo em que o nível do mar sobe. Isto acontece porque o aumento da temperatura provoca a expansão do volume das águas, e os oceanos absorvem mais de 90% do excesso de calor gerado pelo aquecimento global, resultante de alterações climáticas como o efeito estufa.
Segundo o estudo da Unesco, o nível do mar avançou, em média, nove centímetros nos últimos trinta anos, e a taxa de elevação dobrou neste período. “Não há dúvidas de que o oceano está subindo e que isto vai se acelerar no futuro”, escrevem os especialistas no relatório. As pesquisas indicam que 40% deste crescimento é atribuído ao aquecimento das águas, sendo os outros 60% decorrentes do derretimento de geleiras nas montanhas, na Antártida e na Groenlândia (foto).
Acidez e falta de oxigênio
Os oceanos absorvem algo entre 25% e 30% das emissões de dióxido de carbono (CO2) causadas pela queima de combustíveis fósseis. Uma das sequelas desta absorção massiva é a chamada “desoxigenação” — desde a década de 1960, os mares perderam 2% da sua composição total de oxigênio, fenômeno que deixa as espécies marinhas, literalmente, sufocadas.
Outro problema que decorre do aquecimento e dos altos níveis de poluição nos oceanos é o aumento da acidez das águas, algo que produz impactos severos sobre a vida marinha, especialmente nas zonas costeiras. A estimativa da Unesco é que os mares estão 30% mais ácidos do que na era pré-industrial e que este índice pode chegar a 170% até o ano de 2100.
Poluição massiva em alto-mar
Pesquisas listadas pelo State of the Ocean calculam que até 4,9 milhões de toneladas de plástico poluem os mares. Nos oceanos Atlântico e Índico, este volume massivo de lixo é composto, principalmente, por equipamentos de pesca descartados ou abandonados. Já o restante das águas é majoritariamente afetado por resíduos de plásticos de uso único — categoria que inclui copos, mexedores de café, canudos, filtros de cigarro e uma miríade de outros itens descartáveis.
Em relação à poluição química, o relatório da Unesco traz a alarmante conclusão de que cerca de 36% dos resíduos chegam ao mar através dos rios — em outras palavras, mais de um terço do lixo químico vem do interior do continente, não das populações que vivem nos litorais. Esta classe de poluentes engloba agrotóxicos, fertilizantes, esgotos, refugos industriais e quaisquer substâncias que alteram a composição química das águas.