Apontado como principal herdeiro eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro — declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na última semana –, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem tentado passar a imagem de um gestor eficiente e tocador de obras. Em seis meses de gestão, a principal vitrine é um ambicioso pacote que inclui projetos de concessões, privatizações e parcerias público-privadas (PPIs) que pretendem atrair investimentos de até 190 bilhões de reais.
Ele, no entanto, tem enfrentado dificuldades relacionadas ao ambiente político — é o primeiro cargo eletivo que ocupa. Reportagem de VEJA desta semana mostra como, na Assembleia Legislativa (Alesp), o primeiro sinal de alerta veio do próprio PL, que compõe a base governista na Casa, quando parte da bancada se insurgiu contra o projeto de reajuste salarial para policiais, enviado pelo Executivo. A situação acabou contornada e, o projeto, aprovado, mas o ruído incomodou o governo, que contava com o apoio natural da base. Por ora, deputados aliados veem o episódio como um fato isolado de uma “minoria” da bancada que é hoje a maior da Casa, com 19 parlamentares, mas alertam para um cenário difícil em votações futuras.
Mais recentemente, Tarcísio tornou-se alvo da fúria de parte do União Brasil, que pleiteia a Secretaria de Habitação — pasta com recursos vultosos e importante peça na execução das várias obras estado afora. Lideranças da sigla queixam-se de que o posto teria sido negociado em troca do apoio a Tarcísio no segundo turno das eleições contra Fernando Haddad (PT), e reclamam, ainda, da falta de acordos sobre cargos em segundo e terceiro escalões. A queixa principal é a de que as “demandas” das indicações são passadas ao secretário de Governo, Gilberto Kassab, mas que o secretário da Casa Civil, Arthur Lima, não as tem atendido.
O episódio mais escancarado do aumento da temperatura com o União se deu quando, no final de junho, deputados do partido decidiram obstruir a votação do projeto de captação de recursos para o Trem Intercidades — linha expressa que ligará a capital a Campinas — e prometeram bloquear votações futuras. A movimentação tem preocupado o Executivo, que está prestes a apresentar projetos importantes, entre eles a reforma administrativa que pretende “enxugar” 5.000 cargos ociosos no estado.
A interlocutores, Tarcísio tem garantido que não irá negociar mudanças em seu secretariado em troca de apoio no Legislativo e que prefere, inclusive, sofrer eventuais derrotas do que desmembrar seu “time técnico”. “Se um ou outro partido não votar a favor, paciência. Caberá a esses deputados explicar para a população e para seu eleitorado o porquê de estar se opondo a um projeto que trará benefício ao estado”, diz um aliado.
A visão é reforçada pelo líder do Republicanos na Alesp, Altair Moraes, que avalia os entraves com o União Brasil como inerentes à política. “O governador não vai entrar em jogo de interesses, ele jamais vai aceitar a faca no pescoço com imposição. O que vemos é que existe resistência de um ou outro deputado, não é todo o União, não é todo o PL. E isso é resolvido com base no diálogo”, afirma.