O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ressuscitou a ideia de um trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro, prometido desde 2004, e está preparando a volta do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, que projetou a ex-presidente Dilma Rousseff nacionalmente, mas acabou virando alvo de várias investigações por suspeitas de desvios. As iniciativas aparecem em um momento em que o país registra o menor patamar de investimentos em infraestrutura da história, mas são vistas com ressalvas por especialistas.
Em 2021 (dado mais recente disponível), o total de investimentos em infraestrutura correspondeu a apenas 1,57% do PIB (134 bilhões de reais), o menor nível da série histórica organizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). Nos últimos vinte anos, o Brasil investiu nessa área, em média, aproximadamente 2% do PIB por ano, menos da metade do que a entidade considera necessário para superar os gargalos existentes (ao menos 4,2% ao ano).
A defasagem de investimentos é maior na área de transportes do que nas de saneamento e energia, por exemplo. Para se ter uma ideia do problema, o montante investido no modal rodoviário tem sido insuficiente para compensar a própria depreciação dos ativos existentes. Ou seja, na prática, o investimento líquido em rodovias tem sido negativo. Um dos resultados disso é que o custo logístico compromete, em média, 12,5% do faturamento das empresas brasileiras, de acordo com Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.
Em comparação, as maiores economias do mundo, como Estados Unidos, China e Índia, destinaram anualmente para a infraestrutura, no mínimo, 4,5% de seu PIB ao longo das últimas três décadas, segundo o especialista.
Nesse cenário, tanto o pesquisador como a CNI apontam que as prioridades para a melhoria da infraestrutura brasileira devem passar necessariamente pela área de transportes. De um lado, é preciso diversificar a matriz, hoje muito dependente do modal rodoviário. De outro, é necessário buscar alternativas para atrair investimentos privados para os trechos de rodovias que não comportam os pedágios tradicionais devido à baixa demanda de veículos. Portanto, é preciso fazer o básico. “Vejo com certa preocupação o governo falar em novas obras, como o trem de alta velocidade. Ele deveria olhar o portfólio já conhecido como uma prioridade e terminar o que está projetado”, afirma Resende.