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O tiro no pé de Lula na comemoração pela transposição do Rio São Francisco

Petista reivindica 'paternidade' da obra, que está oito anos atrasada e consumiu 7 bilhões de reais a mais que o orçamento original

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jun 2020, 17h30 - Publicado em 25 jun 2020, 17h21

Quase dez anos após deixar a presidência e quatro anos desde saída do PT do poder, o ex-presidente Lula continua a reivindicar como suas as obras da transposição do Rio São Francisco. Depois de promover ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff uma “inauguração alternativa” de obras do Eixo Leste, que já haviam sido inauguradas nove dias antes pelo então presidente, Michel Temer, em 2017, o petista postou em suas redes sociais nesta quinta-feira, 25, uma foto em que se diz quem verdadeiramente “lutou para tornar realidade a transposição do São Francisco”. A publicação vem um dia antes de o presidente Jair Bolsonaro, atendendo a apelos de parlamentares do Centrão, visitar a cidade de Jati, no Ceará, onde vai inaugurar um trecho de obra do Eixo Norte da transposição.

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A “paternidade” da obra e suas inaugurações são disputadas, sobretudo porque estar lá no momento em que a água corre nos canais rende boas fotos e pode gerar dividendos eleitorais. Cogitada desde a época de Dom Pedro II, no Segundo Reinado, no século XIX, a transposição do São Francisco é, no entanto, uma história repleta de problemas.

O orçamento inicial para a obra, em 2007, era de 5 bilhões de reais, previsão que virou cerca de 12 bilhões de reais para conclusão das obras. O cronograma original do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previa para dezembro de 2012, ainda no primeiro mandato de Dilma, a conclusão do Eixo Norte, este que terá um trecho inaugurado por Bolsonaro. Em 2016, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) chegou a suspender as obras neste eixo, decisão revertida pelo Superior em abril de 2019. Com 260 quilômetros de extensão, passando por Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, o Eixo Norte tem 97% das obras concluídas, segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional. Em agosto do ano passado, Jair Bolsonaro assinou um decreto qualificando o projeto como “obra estratégica” no Programa de Parcerias e Investimentos (PPI).

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No Eixo Leste, inaugurado oficialmente por Temer e extraoficialmente por Lula e Dilma há mais de três anos, os canais chegaram a ter o fornecimento de água interrompido em 2019 e apresentavam danos estruturais sérios. Reportagem de VEJA mostrou que um perito do Ministério Público Federal da Paraíba vistoriou cerca de 40 quilômetros entre as cidades de Sertânia (PE) e Monteiro (PB) em julho do ano passado. No relatório, apontou uma série de problemas: o revestimento de concreto tinha fissuras, trincas e rachaduras que chegam a mais de 1,5 centímetro de espessura; sem estruturas de drenagem, as chuvas levavam areia a se acumular no fundo dos cursos d’água, que ficavam assoreados; obras de drenagem estavam com paredes quebradas, comprometidas por erosão, e algumas canaletas estavam quase invisíveis, cobertas por terra e pedregulhos. Havia até mato dentro do canal. Como se vê, os problemas nem sempre acabam quando obras intermináveis, enfim, terminam.

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