PT faz intervenção em diretório de Curitiba e expõe racha no partido
Decisão, que visa aliança com o PSB, vai contra ala da legenda que defende candidatura própria; medida envolve interesse eleitoral de Gleisi
A pouco mais de seis meses para as eleições, as alianças em curso para os nomes que serão lançados à Prefeitura de Curitiba têm feito barulho no Paraná.
Depois do anúncio da filiação do ex-governador Beto Richa (PSDB) ao PL de Jair Bolsonaro, — o que abriu uma crise na direção municipal do partido –, agora é a vez de o PT de Lula ser o epicentro da disputa eleitoral.
A direção nacional da legenda decidiu intervir no diretório municipal em Curitiba, afirmando que a estratégia eleitoral na capital será decidida pela cúpula nacional petista, e não pela direção local. Em ofício divulgado nesta quinta-feira, 14 (Leia a íntegra abaixo), o senador Humberto Costa (PT-PE), coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT, determinou o cancelamento da reunião do diretório municipal marcada para o próximo dia 7 que deliberaria sobre o lançamento de uma candidatura própria ou sobre a composição de chapa com outra legenda. Citando uma resolução da sigla, o senador afirma que a tática eleitoral será discutida pela Executiva nacional em reunião marcada para 26 de março.
Uma ala do PT, liderada por Gleisi Hoffmann, presidente nacional da legenda, defende uma aliança com o deputado federal e ex-prefeito de Curitiba Luciano Ducci (PSB), candidato mais bem posicionado nas últimas pesquisas. Dessa forma, o parlamentar socialista seria o cabeça de chapa, com um nome petista a ser indicado ocupando a vice. Sondagem de dezembro feita pelo Instituto Paraná Pesquisas mostra Ducci com 16,2%, seguido pelo deputado estadual Ney Leprevost (União Brasil), com 16%. Na sequência, figuram Beto Richa (PSDB), com 13,5%, e o atual vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) com 12,5%.
Segundo interlocutores petistas, Gleisi optou por “privilegiar” o PSB com a aliança por considerar, em troca, o apoio da sigla em uma eventual candidatura sua ao Senado. Com o atual senador Sergio Moro (União Brasil) na mira de um processo na Justiça Eleitoral que poderá levar à sua cassação, a vaga na Casa Alta seria disputada em eleições suplementares, possivelmente ainda neste ano, caso a perda de mandato seja confirmada.
Por outro lado, a ala que é liderada pelo líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu, defende que a sigla tenha um nome próprio na disputa à Prefeitura de Curitiba.
Nesta quinta, Dirceu disse ter ficado sabendo pela imprensa da decisão da Executiva Nacional e classificou o ato como um “desrespeito aos pré-candidatos, ao diretório municipal e à militância”. O deputado disse ainda que, mesmo com a determinação, continuará defendendo a candidatura própria na capital.
“Por que alguém, de cima para baixo, vai nos impedir de participar de forma legítima e democrática? Isso é inaceitável, é um equívoco, é um erro. Até porque ninguém sabe o dia de amanhã, ninguém sabe bem quem será candidato, quem vai manter candidatura”, disse em vídeo compartilhado pelo WhatsApp.
O deputado diz ainda que irá discutir a questão com o presidente Lula. “O partido está se precipitando (…). Vou comunicar o presidente Lula desta avaliação, e espero que a direção nacional não cometa nenhum tipo de violência, de atropelo, de desrespeito às instâncias que primeiro precisam decidir a nível municipal para, daí sim, o Diretório Nacional fazer a sua avaliação”, concluiu Dirceu.
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Leia o ofício do Grupo de Trabalho Eleitoral:
“Ilmo. sr. presidente do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Curitiba
Vereador Ângelo Vanhoni:
Na condição de coordenador-geral do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) nacional do PT, após consulta à maioria dos integrantes daquele colegiado e diante da relevância do processo eleitoral em várias cidades do país para o projeto nacional do PT, entre as quais se inclui Curitiba, encaminhei à Direção Nacional do partido, com base na Resolução CEN de 28 de setembro de 2023, que a tática eleitoral deste município seja discutida pelo Diretório Nacional em sua próxima reunião a ser realizada no dia 26 de março do corrente.
Em razão disso solicito desde já a suspensão do respectivo processo local de definição de tática eleitoral até o pronunciamento definitivo da instância nacional.
Estamos à disposição para quaisquer outros esclarecimentos.
Atenciosamente,
Humberto Costa
Coordenador Nacional do GTE PT”