Investigadores que atuam no inquérito administrativo aberto pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para apurar ataques ao sistema eleitoral estão surpresos com os valores arrecadados pelos canais bolsonaristas por meio de doações. Plataformas como o YouTube entregaram na semana passada relatórios financeiros ao TSE que apontam que as doações diretas aos donos dos perfis rendem bem mais que a tradicional monetização – que gera dinheiro proveniente de anúncios exibidos.
Uma hipótese de pessoas envolvidas com a investigação é a de que servidores ligados a políticos estejam “doando” parte dos seus salários para canais previamente acertados, um tipo de “rachadinha virtual”. “O buraco é grande e é fundo”, diz uma das autoridades com acesso ao caso. Onze canais que estão na mira do TSE por terem divulgado informações infundadas sobre o sistema eleitoral ganharam juntos, só no YouTube, 10 milhões de reais de janeiro de 2019 para cá, como mostrou reportagem de VEJA na edição desta semana.
As doações diretas on-line preocupam porque são praticamente irrastreáveis. O dinheiro passa pela conta das plataformas antes de ir para o bolso dos produtores de conteúdo. E o mundo digital permite que doações sejam feitas por meio de cartões pré-pagos, como “gift cards” – o nome de quem os adquire nem sempre fica registrado. Tudo isso dificulta que os investigadores descubram a verdadeira origem das “doações”, mesmo que eles quebrem o sigilo dos donos dos canais. É um mundo de possibilidades para lavagem de dinheiro, dizem integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público.