Remadoras de projeto social da Marinha no Rio vão competir no Havaí
Dez atletas com idades entre 16 e 19 anos integram a delegação que se dividirá entre as provas Sub-16 e Sub-19 nos Estados Unidos
Em 2024, o Campeonato Mundial de Canoa Havaiana terá entre os competidores duas equipes femininas de jovens e adolescentes treinadas pela Marinha do Brasil. Formadas pelo Programa Forças no Esporte (Profesp), do Ministério da Defesa, as atletas foram classificadas para o torneio, que ocorre entre os dias 13 e 24 de agosto no Havaí, após vencerem as provas nacionais realizadas no ano passado em Brasília.
Ao todo, dez meninas com idades entre 16 e 19 anos integram a delegação que se dividirá entre as provas Sub-16 e Sub-19 nos Estados Unidos. A canoa havaiana, também chamada de Va’a, vem ganhando popularidade nas costas brasileiras nos últimos anos e foi introduzida no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), complexo esportivo da Marinha no Rio de Janeiro, em 2022 — dois anos após as primeiras remadas, os treinadores do centro se orgulham de enviar as equipes para o Mundial.
Para o responsável pelo Profesp no CEFAN, Comandante Fábio Montenegro, o esporte é uma experiência transformadora na vida dos participantes do projeto social. O centro esportivo está localizado na Penha, na Zona Norte do Rio, e recebe crianças e adolescentes vulneráveis de comunidades no entorno, como os Complexos da Maré, Alemão, Israel e Acari. “São alunos e alunas que vêm de um cenário onde a referência é o tráfico, e nós abrimos portas para mostrar que eles têm chances de desenvolvimento físico, mental e social e oferecer oportunidades de melhoria de vida”, explica.
Conquista suada
Com mais de oitocentos alunos entre dez e dezenove anos de idade e vinte modalidades esportivas, o Profesp tem recursos limitados e seus treinadores trabalham duro para transformar atletas amadores em competidores profissionais e levá-los para campeonatos em todo o Brasil. A participação dos times de canoa havaiana do CEFAN nas disputas estaduais e, posteriormente, no torneio nacional, só foi possível com doações para transporte – as equipes ficaram hospedadas em instalações cedidas pela Marinha.
A prova nacional terminou com quatro equipes Sub-16 e Sub-19, duas masculinas e duas femininas, classificadas para o campeonato mundial. O próximo desafio foi a captação de recursos para garantir vistos, passagens e hospedagem dos atletas no Havaí. Após algumas negociações internas e uma parceria com a Secretaria de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro, a verba foi suficiente para formar uma delegação de dez meninas que disputarão as provas nos Estados Unidos.
Mesmo assim, ainda falta orçamento para custear todo o tempo de estadia das atletas em solo americano, incluindo alimentação e locomoção até o local das provas, que fica a 40 quilômetros de distância do local de hospedagem. Para isso, o CEFAN disponibiliza uma conta bancária para doações de qualquer pessoa que queira contribuir (veja ao final da reportagem) e busca patrocinadores para as equipes. “Quando nossos alunos mostram esforço e conseguem uma classificação, fazemos de tudo para que eles disputem pelo Brasil e pelo mundo”, declara Montenegro.
Esporte, educação e trabalho
O Profesp é coordenado desde 2003 pelo Ministério da Defesa e, além do treinamento esportivo, tem como missão a integração dos alunos em situações vulneráveis à sociedade. Nos últimos anos, o programa vem firmando uma série de parcerias que garantem aos jovens o acesso à educação e oportunidades profissionais, além de cuidados com a saúde mental.
No Rio de Janeiro, o CEFAN realiza um projeto com a Federação das Indústrias do estado (Firjan) para oferecer cursos profissionalizantes em Tecnologia da Informação e Processamento de Dados, além de aulas preparatórias para concursos públicos. Os atletas têm, ainda, direito a sessões gratuitas de psicoterapia com consultórios especializados.
Para captar alunos, desde 2009, o centro conta com o apoio da Pastoral do Menor, organização ligada à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que realiza ações sociais em comunidades carentes. A cooperação, segundo os responsáveis pelo centro, ajuda a alcançar espaços dominados pelo tráfico onde o acesso é difícil aos militares.