Apesar do clima típico de alegria e diversão do Carnaval no Brasil, a folia também é marcada por uma sensação generalizada de medo e insegurança para o público feminino. Metade das mulheres relata já ter sofrido assédio sexual durante as festas e 73% temem passar por essa situação, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva em parceria com o Question Pro divulgada na última terça-feira, 6.
Os dados jogam luz sobre uma prática lamentável que, embora rechaçada por boa parte da população, continua a ocorrer sistematicamente nos blocos de rua por todo o país. Oito em cada dez entrevistados pelo levantamento discordam da ideia de que é aceitável para um homem “roubar” um beijo de uma mulher se ela estiver bêbada e usando pouca roupa, enquanto 10% concordam total ou parcialmente com essa visão – outros 15% acreditam que vestir fantasias curtas durante a festa é um sinal claro de que a mulher quer beijar alguém.
Mais além, o estudo revela que o problema do assédio é ainda pior entre as mulheres negras. Neste grupo, o medo da importunação sobe para 75% das entrevistadas e o número de vítimas chega a 52% – para esta parcela da população, 65% discordam que o Carnaval hoje é mais seguro e que existe menos assédio do que no passado.
“Mesmo com importantes campanhas contra o assédio nos últimos anos, as mulheres ainda se sentem vulneráveis durante o carnaval”, afirma Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. “Já passou da hora de rompermos com a ideia de que a roupa que a mulher está usando ou o consumo de bebida alcoólica justificam o assédio. A responsabilidade é de todos nós”, acrescenta.
Campanhas de conscientização
Segundo o levantamento, 97% das mulheres brasileiras acreditam que é fundamental a realização de campanhas contra o assédio no Carnaval, tanto pelo poder público quando por entidades privadas e organizações de defesa dos direitos. Em algumas das principais capitais onde ocorre a folia de rua, as autoridades vêm se movimentando para combater a prática da importunação sexual de mulheres, incluindo também o enfrentamento a casos de homofobia e racismo.
Em São Paulo, a prefeitura instalou tendas pela cidade nos locais de maior movimentação para atender vítimas de assédio e discriminação, orientando às pessoas afetadas sobre como proceder e denunciar os autores. A iniciativa também foi movida pela prefeitura de Salvador, que colocou centros de atendimento psicossocial às mulheres nas ruas e mobilizou equipes de segurança para facilitar a fiscalização e punição aos infratores.
Já no Rio de Janeiro, o governo estadual lançou uma campanha que consiste em espalhar mensagens de conscientização pelas cidades onde ocorre o Carnaval e orientar estabelecimentos sobre regras de iluminação em estacionamentos e banheiros, treinamento das forças de segurança para lidar com casos de assédio e divulgação de canais de ajuda dedicados às mulheres que se sentirem ameaçadas durante a folia.