É cada vez mais complexa a relação entre a campanha de Ricardo Nunes, candidato à reeleição em São Paulo, e o bolsonarismo. Essa base de apoio é considerada essencial para manter as chances de vitória do prefeito, mas a aliança nunca teve dias fáceis. Ao mesmo tempo em que garante mais popularidade à direita, dada a capacidade de transferência de votos de Jair Bolsonaro, a rejeição constatada nas pesquisas da cidade ao nome do ex-presidente é alta entre a média do eleitorado. Ao menor sinal de que Nunes não emite os sinais desejados em reconhecimento ao apoio do bolsonarismo, surgem críticas ao prefeito por não assumir o compromisso de forma integral com essa turma.
Outro grande complicador surgiu com a ascensão de Pablo Marçal, cujo discurso tem atraído parte do público que naturalmente migraria para o prefeito. Em declarações recentes, Jair Bolsonaro emitiu sinais de simpatia pelo coach, algo que incomodou bastante a campanha do prefeito. Após o debate promovido por VEJA na manhã de segunda, 19, compromisso no qual, depois de confirmar participação, Nunes se ausentou, dentro de uma combinação com as campanhas de Guilherme Boulos e José Luiz Datena, Marçal aproveitou o espaço do evento para novamente se colocar como a liderança à direita com maior chances de ganhar protagonismo na disputa. Horas depois do evento, numa tentativa de sinalização de paz, o ex-presidente divulgou vídeo reafirmando o apoio ao prefeito. Resta saber qual será o efeito da peça, diante de uma relação na qual ambas as partes vivem uma interminável DR (discussão de relação).
A seguir, confira quais são os “sete pecados capitais” de Nunes, segundo o bolsonarismo:
1. O prefeito não abraça integralmente as bandeiras mais conservadoras do bolsonarismo, assim como os discursos mais críticos a instituições como o STF;
2. Embora tenha aceitado como vice um nome indicado por Jair Bolsonaro, esconde nas aparições públicas o ex-capitão da Rota Ricardo Mello Araújo;
3. Deixa de fora Eduardo Bolsonaro em reuniões importantes e estratégicas para a campanha;
4. Gravou vídeo de apoio para Joice Hasselmann. Candidata a uma vaga de vereadora, ela é considerada uma das grandes traidoras do bolsonarismo;
5. Não abre mais espaço na campanha para a participação de lideranças bolsonaristas;
6. Chamou de “amigo e parceiro” leal Adilson Amadeu, vereador condenado por antissemitismo;
7. Enquanto Nunes tem procurado focar nos discursos em números e realizações de seu governo, bolsonaristas cobram uma atuação menos técnica e mais agressiva, sobretudo nas redes sociais, de forma a evitar a debandada de votos para Pablo Marçal.