Candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) largou na campanha com o cofre mais recheado entre os postulantes ao Palácio dos Bandeirantes. Na primeira semana, Tarcísio já arrecadou 312.200 reais por meio de doações registradas na Justiça Eleitoral, entre as quais um repasse de 200.000 reais do bilionário Abílio Diniz, como mostrou VEJA.
Também chama a atenção entre os doadores da campanha do ex-ministro um sobrenome: “Brilhante Ustra”, o mesmo do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, notório torturador que chefiou o DOI-Codi de São Paulo entre 1970 e 1974 (é também um dos ídolos do presidente Jair Bolsonaro). O advogado tributarista Octavio Lopes Santos Teixeira Brilhante Ustra, sobrinho do coronel Ustra, doou 20.000 reais ao caixa de Tarcísio Gomes de Freitas por meio de uma transferência na última terça-feira, 16. Sócio de uma banca de advocacia em Campinas (SP), Octavio é filho de José Augusto Brilhante Ustra, irmão do ex-militar morto em outubro 2015.
Na eleição de 2018, Octavio Brilhante Ustra já havia mostrado simpatia ao bolsonarismo. Ele doou 7.000 reais à campanha do presidente Jair Bolsonaro, em sete parcelas de 1.000 reais, por meio de um financiamento coletivo. A viúva do torturador, Maria Joseíta, também colaborou com 1.000 reais a Bolsonaro, que não perde a oportunidades para louvar a macabra ação do militar no aparelho repressivo da ditadura.
Em 2016, quando era deputado federal, Bolsonaro mencionou Ustra ao votar favoravelmente ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff. “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff (…), o meu voto é sim”, afirmou Bolsonaro. A ex-presidente foi torturada durante a ditadura militar.
Quem foi Brilhante Ustra
Carlos Alberto Brilhante Ustra chefiou o DOI-Codi, divisão de repressão e inteligência da ditadura, entre 1970 e 1974. Ele foi o primeiro militar condenado por crimes cometidos durante o regime. Em 2008, o juiz Gustavo Santini Teodoro sentenciou o coronel pela prática de tortura e sequestro na década de 70. Testemunhas ouvidas no processo disseram que Ustra comandava pessoalmente as sessões de tortura.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) registrou 45 mortes e desaparecimentos de pessoas que estiveram presas no DOI-Codi durante o período em que Ustra chefiou o centro de repressão. Também foram constatados ao menos 502 casos de tortura nos porões do local.
Ustra morreu aos 83 anos, em 2015. Em depoimento prestado à CNV, em 2013, ele afirmou que “lutou pela democracia” e negou ter cometido crimes durante o regime militar. “Nunca fui assassino”, disse.