Tensão, pedidos de ajuda e planos de fuga: o drama de jogadores na Ucrânia
Fisioterapeuta brasileiro do Shakhtar Donetsk e empresário do meia Pedrinho, ex-Corinthians, relatam apreensão num hotel em Kiev
Desde o início da madrugada, quando o presidente russo Vladimir Putin ordenou a invasão militar da Ucrânia, jogadores e profissionais de futebol brasileiros que vivem na capital Kiev passam por um momento de tensão e angústia. Atletas que jogam no Shakhtar Donetsk e no Dínamo de Kiev estão confinados num hotel da capital ucraniana, de onde publicaram um vídeo onde pedem ajuda das autoridades brasileiras e falam em “desespero agonizante”.
Luciano Rosa é fisioterapeuta esportivo e trabalha no Shakhtar desde setembro de 2021. Ele conta a VEJA que estava em casa, num condomínio onde moram todos os brasileiros que jogam no clube, quando ouviu o primeiro alerta da cidade, por volta das 6h. “Logo chegaram as ordens para levantar, arrumar a mala e ir para o hotel, que é do clube”, relata. “A segunda vez que ouvi o alarme foi quando estava chegando ao hotel. Desde então, não tocou mais. Também não ouvimos explosões ainda. Se tocar de novo, temos que ir para o bunker, que é um abrigo subterrâneo do hotel”, conta.
Foram para o hotel, além de Rosa, todos os treze jogadores brasileiros do Shakhtar e a comissão técnica italiana do mesmo clube. Os jogadores são Vitão, Marlon, Dodô, Tobias, Ismaily, Maycon, Marcos Antônio, David Neres, Tetê, Alan Patrick, Pedrinho, Moraes e Fernando. Depois, chegaram também Vitinho, que joga no Dínamo de Kiev, e Carlos de Pena, uruguaio do mesmo time. Alguns estão com família. O fisioterapeuta, por exemplo, está acompanhado do filho Gustavo, que atua nas categorias de base do time ucraniano.
Pedrinho, ex-jogador do Corinthians, está com a esposa Layla e a filha de dois meses. Veja abaixo vídeo gravado pelo atleta:
“Estão todos muito apreensivos e temerosos, porque nunca passaram por isso na vida”, resumiu Will Dantas, empresário de Pedrinho. Ele diz que aconselhou os atletas a ficarem no hotel por receio de confrontos na fronteira terrestre, que neste momento seria o único meio de sair da Ucrânia. Lá, além de abrigo, têm também alimentação e conforto.
Depois que o vídeo foi publicado nas redes sociais, Luciano diz que o Itamaraty entrou em contato com eles. “Mas estão discutindo qual a melhor forma de fazer a retirada, porque ainda não há uma estratégia. A via mais segura parece ser a retirada militar. São informações muito desencontradas, que deixam a situação mais tensa e angustiante”, afirma.
Já Dantas conta que não obteve resposta dos contatos que tentou fazer com a diplomacia brasileira. “Eu falei até com o senador Romário (PL-RJ) para tentar um contato direto com o presidente [Jair Bolsonaro], mas ainda não tive retorno”.
Com essa indefinição, Rosa afirma que os brasileiros pretendem ficar no hotel até amanhã. Há a tentativa de conseguir um vagão num trem para a Polônia, uma vez que eles não sabem se conseguirão sair por via aérea com os aeroportos fechados. “O pior é ter que tomar decisões muito importantes com tanta tensão e sem saber de muita coisa. Dá para ver que os ucranianos estão tensos, mas os estrangeiros estão muito mais. É incomparável”, descreve.