A empresária Thereza Collor, filha do usineiro e ex-deputado João Lyra, falecido em 2021, aos 90 anos, faz uma série de acusações contra a irmã mais velha, Maria de Lourdes Lyra, responsável pelo inventário do patriarca e, por consequência, a única entre os herdeiros com poder de atuar no processo de falência do Grupo Laginha. O império é atualmente avaliado em 4 bilhões de reais, mas seu processo de liquidação se arrasta há quase dez anos.
Entre as acusações estão falta de transparência e utilização de recursos da massa falida para uso pessoal. O caso foi contado em reportagem de VEJA desta semana.
Veja abaixo os principais pontos da entrevista de Thereza Collor:
Por que a senhora e seus irmãos querem destituir a Maria de Lourdes do comando do processo de inventário? Discordamos da maneira como Maria de Lourdes vem conduzindo o inventário. Em nossa visão, ela não tem o preparo necessário para defender os interesses dos herdeiros no processo de falência da Laginha, cuja resolução é determinante para a solvência do espólio. Sua conduta põe em risco o patrimônio familiar. Além disso, identificamos elementos de prova que, segundo nosso entendimento, indicam que Maria de Lourdes teria cometido diversas irregularidades como inventariante, incluindo potencial ocultação utilização de recursos do espólio para pagar despesas de bens, possível com seu advogado pessoal e a extrema deficiência na prestação de contas. Os irmãos perderam toda confiança em sua atuação.
Quais os prejuízos a senhora vê com a manutenção da sua irmã no comando da ação? Para os herdeiros de João Lyra, o atual estado de coisas pode levar à destruição total do patrimônio do espólio. Para os credores da Laginha, o risco é a falta de perspectiva de recebimento e a eternização da falência. As consequências para herdeiros e credores estão ligadas.
Quais seriam as intenções dela? Não posso responder por ela, mas vejo sinais perturbadores de conivência de Maria de Lourdes com iniciativas para impor custos astronômicos e contratos de longa duração à massa falida, na contramão do que deve ser o processo de falência. Também são preocupantes as ligações profissionais e econômicas entre os assessores jurídicos e financeiros de Maria de Lourdes e a dupla de advogados Eugênio Aragão e Willer Tomaz. Com a perpetuação da falência, os credores são prejudicados e somente os assessores ganham.
O que a senhora faria de diferente, caso fosse nomeada inventariante? Entendo que o caminho para maximizar o valor do patrimônio do espólio passa por desenvolver uma solução de mercado para a falência, que possa ser aceita pelos credores. Eu e meus irmãos contratamos uma firma de assessoria financeira experiente e respeitada, a Valuation, para nos ajudar a construir essa solução. Fazer isso acontecer requererá um choque de credibilidade: todos devem acreditar que a falência será pautada por transparência, eficiência e celeridade. Minha visão como inventariante é ajudar a promover essa guinada. Também quero acabar com as irregularidades na condução do inventário. Meu lema será a transparência.
Quais são as relações pessoais da senhora com a Maria de Lourdes? Não tenho nada pessoal contra minha irmã. Apenas não posso assistir calada à forma como ela vem atuando no inventário e na falência. Não é admissível que ela se omita e compactue com o que vem acontecendo.
Vocês se falam? Eu e meus irmãos tentamos fazer com que Maria de Lourdes enxergasse seus erros, mas não tivemos sucesso. No início do ano, após muita reflexão, concluímos que seria necessário buscar um novo rumo para a falência e o inventário, e que Maria de Lourdes não tem condições para permanecer como inventariante. Maria de Lourdes não me procurou, e nem eu a ela, desde então.
E quais as relações dos irmãos entre si? Temos ótimas relações. O propósito comum de promover uma mudança de rumo na falência e no inventário, no interesse de todos (inclusive de Maria de Lourdes), nos deixou até mais próximos. Queremos defender o patrimônio familiar para o bem de todos.
Procurada por VEJA, Maria de Lourdes Lyra não quis se manifestar.