O uso político do caso Marielle Franco pela direita é uma das coisas mais abjetas do Brasil nos últimos anos. E olha que o Brasil já viu situações infames ao longo de sua história.
É que, para fazer críticas à esquerda, os próceres do conservadorismo Sérgio Moro, Deltan Dellagnol e Marcelo Bretas resolveram comentar nesta segunda, 24, as novas informações do assassinato da ex-vereadora.
Marielle Franco era mulher, negra, mãe, política e sempre teve como agenda a melhoria de comunidades carentes. Foi metralhada brutalmente pelas costas com uma arma MK5 dentro de um carro no único local do Rio de Janeiro que estava com as câmeras de segurança desligadas.
Ou seja, tudo indica que ela foi vítima de uma sofisticada organização criminosa com tentáculos até mesmo dentro do Estado.
Nesse contexto, todas as ferramentas de investigação disponíveis devem ser utilizadas para identificar os envolvidos, incluindo a delação premiada. Cinco anos após o crime, os mandantes ainda não foram descobertos e o país não sabe qual nível de contaminação das instituições públicas.
Mas, em meio à polarização que tem levado a cegueira moral de ambos os lados, Moro, Dallagnol e Bretas acharam por bem criticar a esquerda, o PT e o ministro da Justiça, Flávio Dino, que – com razão – comemorou o avanço nas investigações através da delação.
O ex-juiz da Lava Jato disse: “Espero, aliás, que identifiquem o mandante e mordam a língua. Foram delatores que também revelaram a roubalheira na Petrobras durante os governos do PT.”
O deputado cassado e ex-chefe da força tarefa afirmou “Assistam à mágica acontecer: agora delação premiada se tornará a coisa mais maravilhosa do mundo, capaz de resolver todos os problemas do Brasil. A esquerda, os garantistas de ocasião e os prerrogativistas todos festejarão o que até ontem eles criticavam na Lava Jato. Hipócritas.”
O juiz da operação ironizou: “Como deixou claro hoje o Sr Min. da Justiça @FlavioDino, o instituto da Colaboração Premiada é um importante instrumento para todas as investigações criminais.”
Críticos dirão que a esquerda também usa politicamente Marielle Franco. Mas ninguém duvida que as lideranças políticas desse segmento anseiam pela justiça. Nunca pareceu, contudo, que esses três personagens – ironicamente atuando como juízes e procuradores – genuinamente desejam a mesma coisa.
Esse é um caso em que a política deveria ser deixada de lado para o bem do Brasil.