Jair Bolsonaro perdeu, mas o ideário – a doutrina bolsonarista – não.
Continua viva a nos assombrar.
Nesta quarta, 12, o deputado federal general Girão teve a coragem de dizer que “respeita bastante” as “responsabilidades das mulheres”. E quais seriam elas? As de “procriação e harmonia da família”.
Girão estava em um embate com a colega parlamentar Sâmia Bonfim, do PSOL, e resolveu por bem ofender milhões de mulheres do Brasil com o vergonhoso raciocínio.
“A atitude da senhora a gente lamenta bastante. As mulheres têm responsabilidades, sim, e eu as respeito bastante, muito, porque elas são responsáveis pela procriação e pela harmonia da família. E a senhora não”, disse Girão.
Para além da luta de séculos por igualdade, que continua até os dias de hoje (Lula recentemente conseguiu a vitória no Congresso da equiparação dos salários entre homens e mulheres), é preciso saber de onde vem o raciocínio do parlamentar.
Durante muito tempo a única virtude reconhecida das mulheres era a de reproduzir e a de criar os filhos. Nada mais. Era o tempo em que a mulher não tinha direito a voto, ou à educação, sendo classificada como “imbecilitus sexus”, o mesmo que menores de idade ou pessoas com alguma deficiência.
Isso foi imposto ao Brasil, inclusive, pelos colonizadores portugueses, e mantido séculos depois em códigos civis.
General Girão praticamente disse a mesma coisa – após todas as lutas travadas pelas mulheres por séculos.
Não era exagero quando historiadores e jornalistas classificavam o retrocesso dos últimos anos como civilizatório. A ignorância do deputado bolsonarista, mais uma vez, comprova isso.
O Brasil testemunhou tantas ofensas de pessoas do poder às mulheres, a outros grupos discriminados, durante o governo Bolsonaro, que muitos acharam que isso era normal. Não é tolerável. E essa é a hora de os políticos e poderosos mudarem o comportamento. Por isso, o próprio Congresso tem que estudar punição. Para isso existe o Conselho de Ética.