O choro de Jair Bolsonaro durante a cerimônia de apresentação de oficiais-generais promovidos nesta segunda, 5, traz importantes mensagens para o próprio presidente e para os brasileiros.
Uma das coisas que mais chocou o país durante a pandemia da Covid-19, a pior dos ultimo 100 anos, foi ouvir seu líder máximo dizendo: “chega de frescura, de mimimi, vão ficar chorando até quando?”.
A declaração foi dada em março de 2021, quando o país lidava com uma média de 4 mil mortes por dia. Milhares de familiares que perderam entes queridos ouviram essa frase e nunca mais esqueceram. Quem não teve perdas pela Covid também não esqueceu, ao menos aquelas pessoas com um pingo de senso de Justiça.
Pois bem. A maioria decidiu.
A prova dessa bárbara ofensa veio no dia 30 de outubro, quando Bolsonaro se tornou o primeiro presidente que não conseguiu a reeleição – mesmo tendo usado a máquina pública como nenhum outro chefe de estado brasileiro.
Agora, Bolsonaro chora.
Ao contrário do que o presidente faria, este colunista não vai pedir que ele “pare de mimimi”. A emoção de Bolsonaro parece legítima.
Em público, o presidente chora a dor de perder uma eleição. Fazer isso numa cerimônia militar é ainda mais significativo. O capitão Bolsonaro não saiu do Exército muito bem. Nada bem, na verdade.
Anos depois, por meio da política, conseguiu se tornar, surpreendentemente, o comandante em chefe das Forças Armadas. A glória veio. A partir de 1º de janeiro, no entanto, ele terá que deixar a posição que tanto gostou de ocupar.
Aliás, com seu jeito autoritário, transformou as Três Forças em órgãos de um campo ideológico.
A natureza do choro é essa. Bolsonaro está deixando o poder derrotado, não vai mais presidir as cerimônias militares e tem todos os temores sobre o que fará a partir do próximo ano.
Bolsonaro é livre para expressar seus sentimentos. Embora ele tenha tentado calar a dor de milhões de brasileiros, daremos a ele a liberdade de chorar. Mas ele sabe que não esqueceremos os seus malfeitos.
Inclusive, o último. O presidente deixará o governo numa situação calamitosa. O estado brasileiro está parando. Ja vai tarde, futuro ex-presidente.