O esboço do programa de governo divulgado pelo PT nesta segunda, 6, resgata bons momentos de gestões anteriores, toca em temas necessários, mas deixa lacunas em questões importantes.
O documento se escora no passado para apontar um futuro ao pais, exaltando o pré-sal e o Bolsa Família, considerados trunfos de gestões petistas anteriores. “O pré-sal será novamente um passaporte para o futuro”, aponta. Em outro momento, afirma que o Bolsa Família será “renovado e ampliado”. O programa social, considerado referência no mundo, foi extinto no atual governo.
O PT também fez questão de enfatizar a questão econômica no esboço, uma escolha estratégica que faz muito sentido, considerando a situação crítica que o país vive.
O combate à fome e ao desemprego devem ser prioridade para resgatar a dignidade de milhões de brasileiros que sofreram (e ainda sofrem) com a pandemia.
Apesar de acertar ao falar da crise econômica, o partido deixa uma lacuna ao dizer que é contra o teto de gastos – sem esclarecer qual será o novo parâmetro fiscal em um eventual governo Lula.
Seria melhor se tivessem dito o que será colocado no lugar do teto de gastos, já que a ferramenta é importante para a estabilidade econômica.
Além disso, o PT fala em intervenção no câmbio, assunto que não agrada o mercado financeiro e pode ser visto de forma negativa.
O objetivo do partido de Lula com o esboço é preencher um vácuo deixado pelo governo Bolsonaro, que vai muito mal na condução do país.
Em alguns pontos, o documento é verdadeiro, como quando enaltece a importância dos órgãos de controle e das instituições.
Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro tem interferido na Polícia Federal, desrespeitou a lista tríplice usada há anos para escolher o chefe do Ministério Público e permitiu o fechamento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Nas gestões petistas, a PF manteve sua autonomia, a lista tríplice sempre foi respeitada e não houve tentativa de acabar com órgãos de controle como o Coaf.
O atual governo, que se vendeu como liberal, não conseguiu realizar as grandes privatizações que prometeu. Talvez consiga, ao apagar das luzes, viabilizar a privatização da Eletrobras, com muito custo.
O PT, no esboço do programa, já deixa claro que é contra a privatização da Eletrobras, dos Correios e da Petrobras.
Outro tema importante abordado pelo documento é a defesa do meio ambiente. Num momento em que o Brasil é visto com maus olhos, com os índices recordes de desmatamento, o PT enfatiza a importância de defender a Amazônia e outros biomas.
O documento atenua o que tem sido dito sobre controle da imprensa, mas deixa ainda uma dúvida sobre o que o partido pretende ao falar em “regulamentação dos marcos legais dos meios de comunicação”, no item de número 90.
O esboço tem acertos e falhas, mas poderia ter sido mais claro em assuntos polêmicos e que podem gerar confusão na cabeça do eleitor. O que fica para o público é que o partido de Lula quis trazer à memória dos brasileiros o que deu certo nos governos anteriores e relembrar a grave crise econômica que estamos enfrentando e que é a causa de diversos outros problemas.