A guerra Israel-Hamas é o novo capítulo da polarização brasileira. Nas redes sociais e fora dela, compatriotas se dividem, se xingam e se atacam por causa de um lado ou de outro desse infeliz conflito que tem ceifado a vida de muitos inocentes, incluindo crianças, de ambos os lados.
A demissão do então presidente da EBC Hélio Doyle, que repostou uma mensagem crítica a Israel na última quarta, 18, foi mais uma demonstração de que a guerra no Oriente Médio passou a alimentar o embate acirrado entre a esquerda e a direita brasileira, que não permite ponderações.
Doyle deixou o cargo após repostar no X (antigo Twitter) uma publicação do cartunista Carlos Latuff que dizia: “não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”.
Mas não foi só este episódio que exemplifica o atual momento da polarização brasileira.
Recentemente, na PUC-Rio, o historiador, sociólogo e coordenador no Instituto Brasil-Israel, Michel Gherman, foi hostilizado por estudantes e teve que sair da mesa de debate só porque disse que os palestinos têm direito a ter um estado nacional. Foi acusado de ser antissionista, mesmo sendo judeu e sionista.
Na semana anterior, um estudo da FGV analisou 800 mil posts desse embate sobre o conflito no X, no Facebook e no Instagram. Segundo a Fundação, a direita obteve sucesso ao associar o Hamas ao presidente Lula.
O ex-presidente Jair Bolsonaro logo percebeu isso e postou em suas redes: “pelo respeito e admiração ao povo de Israel repudio o ataque terrorista feito pelo Hamas, grupo terrorista que parabenizou Luís (sic) Inácio Lula da Silva quando o TSE o anunciou vencedor das eleições de 2022”.
Isso porque hoje – historicamente nem sempre foi assim – os brasileiros associam a esquerda à causa palestina e a direita à causa judaico-israelense. Diante do agravamento da guerra – e com a morte de civis dos dois lados – a disputa da narrativa ficou ainda mais inflamada.
O governo Lula, por sua vez, soltou uma série de notas – algumas delas, até do Itamaraty – falando em terrorismo, mas sem acusar o grupo Hamas de ser um grupo terrorista. Classifica apenas seus atos como terroristas.
O Itamaraty explica que é posição antiga só declarar um grupo terrorista quando a própria ONU o faz, mas isso é visto como complacência com o grupo que invadiu Israel com uma ferocidade impressionante matando civis desarmados.
Lá no Oriente Médio tudo é bem mais complicado do que esse maniqueísmo.
É possível defender que os palestinos tenham seu Estado Nacional sem que isso signifique ser contra Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de direita, tem forte oposição interna de israelenses de esquerda ou de centro. Na Cisjordânia, há grupos moderados que gostariam que o Hamas deixasse de controlar Gaza.
Mas o importante a registrar aqui é que a polarização brasileira segue acesa e a cada motivo, interno ou externo, começa a se dividir entre visões extremadas.