Como o Enem resistiu a Bolsonaro
Prova não tinha totalmente a cara do governo e trouxe redação importante
A boa notícia para esta segunda-feira, 22, é que o Enem resistiu de alguma forma às tentativas de interferência política por parte do governo Jair Bolsonaro. Algumas questões trouxeram assuntos importantes para os estudantes.
Como esta coluna mostrou, o presidente admitiu que agora as questões do exame começavam a ter “a cara do governo”. Tentando desmentir as frases claras de Bolsonaro, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que não há nenhuma interferência no exame.
Apesar dos temores, a prova aplicada neste domingo, 21, não teve totalmente a cara do governo. Um dos destaques foi o tema da redação: “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”.
O tema dos brasileiros sem registro e, portanto, sem qualquer direito à cidadania é muito importante e foi recentemente assunto de um livro da jornalista Fernanda da Escóssia, chamado “Invisíveis: uma etnografia sobre brasileiros sem documento”.
Estima-se que cerca de 3 milhões de brasileiros não possuem registro civil e enfrentam uma série de dificuldades por isso. Debater o tema é importantíssimo e estimula nos estudantes a percepção de como a cidadania é fundamental e como o país ainda lida com deficiências nessa área.
Apesar do alívio em parte de ontem, é preciso continuar investigando a denúncia de assédio moral contra servidores do INEP, responsável pela elaboração do Enem.
Até porque a informação é a de que questões referentes à ditadura militar foram retiradas da prova. E essa questão, em especial, precisa ser ficar em pratos limpos.