O presidente Jair Bolsonaro soltou mais uma de suas frases antológicas, daquelas que ficarão para história pelo lado ruim, obviamente, quando os historiadores forem estudar o Brasil pandêmico daqui a alguns anos.
“Vocês não ficaram em casa. Não se acovardaram. Temos que enfrentar os nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, afirmou o presidente durante a inauguração de um trecho ferroviário em São Simão, no Goiás.
O sentido de antológico tem a ver com algo que é “digno de ser lembrado”. Não há nada de digno no comportamento de Bolsonaro na maior pandemia dos últimos 100 anos. Ao contrário. É indigno e cruel um presidente atentar contra o povo que ele representa.
Mas é preciso que fique na História a morbidez do “gripezinha”, do “E daí? Não sou coveiro”, ou do “eu sou Messias, mas não faço milagre”. O país precisa lembrar para aprender. Refletir. Pensar sobre os últimos anos.
É o que defenderão historiadores, como Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, que escreveram o “A bailarina da morte – A gripe espanhola no Brasil”, sobre a pandemia que atingiu o país em 1918 e 1919.
Naquele tempo, também houve a tentativa de maquiar e esconder a tragédia, com a vilania de algumas lideranças. A segunda onda também foi assustadoramente mais letal que a primeira, dizimando parte de uma geração.
Mas, nada como agora. Em mortes ou em irresponsabilidade. São várias frases macabras do presidente. Os corpos foram se empilhando enquanto o presidente ia caçoando – isso é um fato inegável. Agora o “chega de frescura, chega de mimimi” acontece quando o país vive a semana com o recorde de mortos.
Bolsonaro nem fica com o rosto corado ao dizer essas barbaridades. Temos que ser sinceros. Ele foi coerente com a sua linha de pensamento do início ao meio desta pandemia – porque ela parece que não terá fim no Brasil.
É contra máscara e a favor da abertura do comércio. É contra a vacina e a favor da cloroquina. É contra o isolamento e a favor da aglomeração. Enquanto o país caminha para o colapso sanitário e econômico, Bolsonaro mantém uma visão negacionista do vírus, da ciência, da vacina e da vida em si. E nenhuma instituição aprendeu, até agora, como pará-lo.
Que fique então um pedido aos historiadores. Se a “bailarina da morte” foi o símbolo encontrado para definir a gripe espanhola, há hoje no país o “regente da morte – um presidente que aumentou a tragédia da Covid-19”. Que a História registre as ofensas que estamos vivendo.