Detalhes da morte de Marielle Franco mostram o domínio do crime no Rio
O que mais o crime organizado fluminense conseguiu esconder da sociedade brasileira?
Todos os detalhes desse caso escabroso da morte da ex-vereadora Marielle Franco mostram, mais uma vez, como o Rio de Janeiro parece um roteiro de filme de terror, e de como é profunda a relação entre os vários tipos de crime — milícia, jogo do bicho, tráfico de drogas, roubo de mercadorias — e o poder fluminense.
É exemplar disso o fato de que os mandantes sejam um político, o deputado Chiquinho Brazão, um integrante de órgão de controle, o conselheiro do Tribunal de Contas estadual Domingos Brazão, e a estrutura policial – um ex-chefe da Polícia Civil… delegado Rivaldo Barbosa.
Só isso revela que, fosse um roteiro de filme, pareceria até exagero. Mas não é. Há um trecho dos autos que aponta o delegado Rivaldo Barbosa planejando “meticulosamente” o crime que seria executado.
E o que levou a um crime tão bárbaro? A resposta mostra também o que está se transformando uma parte tão importante do território brasileiro: a grilagem de terra para a especulação imobiliária e a expansão do controle da milícia pelo Rio.
O detalhe mais tenebroso é que o delegado Rivaldo Barbosa era considerado pessoa de confiança na Polícia Civil pela familia de Marielle. Ele não é apenas um criminoso contumaz, se as investigações tiverem de fato acertado. Planejou a execução, mas se fez passar por amigo e pessoa empenhada em desvendar o crime.
Se a apuração se confirmar no julgamento, o Brasil terá vencido uma das grandes barreiras antidemocráticas dos últimos anos, junto com a derrota da extrema-direita na última eleição.