DJ Alok e o anjo que nem Oscar Niemeyer viu em Brasília
… trazendo os povos originários para o centro do poder!
Brasília, e mais exatamente a Esplanada dos Ministérios, viu neste fim de semana o que nunca se viu desde o seu nascimento há 64 anos. Mais difícil ainda ver agora, em tempo de polarização radicalizada e paralisia em assuntos centrais do país, seja no Congresso, seja no Supremo ou no governo federal de Lula.
Diante das perguntas que cercam a cidadania brasileira, a resposta certa foi dada pelo DJ Alok, fenômeno mundial que tem raízes na capital da República.
Antes de mais nada, sim… há uma corrente que está contestando, com razão, o dinheiro público do governo do Distrito Federal investido e gasto para produzir a maior festa de aniversário que a capital já viu. O DJ e produtor musical, frise-se, não tem nada com isso. Abriu, inclusive, mão do cachê por sua ligação com a cidade.
Mais do que isso: entregou um espetáculo com a grandeza de seu nome, dando aula no centro do poder de Brasília sobre o Brasil esquecido pelos governantes e que precisa ser defendido de novo. O dos povos originários.
Citando o título de um livro do imortal Aílton Krenak, Alok bradou que “o futuro é ancestral”, deu voz a oito etnias indígenas que tiraram lágrimas do público, passou o microfone para artistas locais, marginalizados e até consagrados como Nando Reis.
Para os conhecedores do mundo cristão evangélico, teve palavra profética da mãe do cantor Hungria, filho da Ceilândia, e teve ainda o testemunho do próprio Alok sobre seguir os passos de Jesus em cima de uma pirâmide que ultrapassava e muito a catedral projetada por Oscar Niemeyer.
A ideia do arquiteto comunista, dita por ele em entrevista a este colunista em 2006, é a de que anjos subiam aos céus por dentro da igreja – daí, os arcos em movimento.
Em 2024, o anjo foi outro, na verdade.
Discípulo do pastor Caio Fábio – a maior referência cristã protestante da História do Brasil -, Alok foi acolhido quando o bolsonarismo religioso fazia dele mais um alvo de seu abjeto papel de fariseu dos tempos modernos.
Alok, conta Caio Fábio, anda com dois pendrives (o segundo é apenas uma garantia). Eles carregam toda a grandeza de espetáculo entregue no centro do poder brasileiro, com músicas que atingem a memória afetiva de várias gerações ao mesmo tempo.
Nem em posses presidenciais, nem no primeiro dia de um governo Lula, na posse de 2003 – quando populares lotaram a Esplanada, a praça dos Três Poderes e toda região central – Brasília viu-se numa festa neste formato não quadrado. Era pirâmide!
A presidente da Funai, Joenia Wapichana, estava em transe na saída do show. Emocionada pela homenagem aos povos originários, disse à coluna nunca ter visto nada igual.
Ao fim do show, Alok soltou um holofote para o alto que parecia fazer ponte com os céus. Não tinha fim, como se soubesse que a luz de alguma forma precisa voltar a ser o farol desses que deveriam guiar os passos dos brasileiros, mas não sabem nem mesmo guiar os seus.
PS – Homens e mulheres podem ser vis! Ando meio cético em relação ao ser humano, mas a família do pastor Caio Fábio: o filho Daniel, a filha Bruna, o namorado da filha, Marcelo… eles me deram pelo menos uma faísca de esperança de novo… além de Alok, claro.
PS 2 – Bruno Pereira, está ouvindo aí no final do túnel de luz aberto pelo Alok? Ainda há esperança! Algumas coisas aconteceram depois que vc partiu, mas não consigo contar agora senão eu vou chorar. Você precisa ver como os funcionários da Funai tem falado sobre a Beatriz. E, olha, tem até anjo no céu de Brasília.