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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Ex-gestor goiano alvo de 1.426 processos vai mais uma vez aos tribunais

O caso do ex-secretário de Saúde de Goiânia Elias Rassi virou tema de estudos nacionais sobre perseguição política por meios judiciais

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 mar 2022, 21h54 - Publicado em 18 mar 2022, 08h19

O caso do ex-gestor goiano que acumula 1.426 ações judiciais e extrajudiciais contra ele – e que virou objeto de estudo sobre perseguição política entre parte dos especialistas do Direito – os garantistes – chega mais uma vez aos tribunais na próxima semana. O professor e médico Elias Rassi foi secretário de Saúde de Goiânia por apenas 24 meses. Depois de desentendimentos com entes públicos, no entanto, tornou-se alvo de uma avalanche de processos e multas milionárias, que se alastra até hoje. 

Ao todo, Elias soma 1,2 mil processos e 70 multas no Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO) – ultrapassando R$ 80 milhões –, 70 inquéritos no Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e 2 inquéritos no Ministério Público Federal (MPF). A defesa do ex-secretário venceu 3 julgamentos na Justiça Federal e 11 na Justiça Comum, além de 25 sindicâncias no Conselho Regional de Medicina. 

Nesta segunda, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) analisa mais um processo, este relativo a um convênio de 2011 com a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. O contrato foi avaliado pela Controladoria Geral do Município na época da assinatura e, em 2015, passou por sindicância solicitada pelo MPGO. Não foi encontrada nenhuma irregularidade.

Histórico 

Elias assumiu a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, em janeiro de 2011, como parte do mandato do então prefeito Paulo Garcia, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). O professor foi nomeado não apenas num momento de grande polarização política, mas também em meio a uma das piores crises já enfrentadas na rede pública de saúde da capital do estado de Goiás, com epidemias de dengue, febre amarela e outras doenças. Elias deixou o cargo em dezembro de 2012. 

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Os embates com a Justiça começaram ainda durante a gestão, no início de 2012, quando, coincidentemente, o ex-secretário se opôs a um pedido do Ministério Público do estado para mudar o nome de uma maternidade de Goiânia, batizada em homenagem a deputada federal Íris de Araújo, mulher do ex-governador Íris Rezende, aliado de Paulo Garcia.

Elias disse que nada poderia fazer, já que a alteração caberia à Câmara Municipal. Na mesma época, recusou também pedido do MP-GO para assumir a direção do Hospital do Câncer Araújo Jorge sem determinação judicial, após a entidade gestora ser acusada de irregularidades. 

O que se seguiu – e isso assusta – foi uma chuva de inquéritos, devassas, processos e multas, com consequências que perduram até hoje. “As contas da gestão de Elias foram aprovadas pelo Conselho Municipal de Saúde e pela Câmara Municipal. O MP-GO, no entanto, se baseou em resoluções do TCM-GO, inclusive relativas a contratos de outras gestões, para abrir investigações contra Elias, sem provas, como se ele fosse o único responsável por toda e qualquer ação da secretaria”, detalha o advogado do caso, Elias Menta. 

Para dar um exemplo estranho, é cobrado ressarcimento duplicado do valor da reforma da Maternidade Dona Íris, em dois processos diferentes, sendo que o contrato nem foi assinado na gestão de Elias. Não foi encontrada nenhuma irregularidade e a unidade está em pleno funcionamento. “Além dos descalabros jurídicos, é importante destacar os transtornos para a vida do professor, que teve detalhes da sua vida expostos, contas bloqueadas, entre outros prejuízos”, acrescenta Menta. 

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Um caso de lawfare

A história de Elias reúne descalabros de tal magnitude que chamou a atenção da academia e de entidades jurídicas. Em 2020, foi tema de artigo do livro Lawfare em debate, organizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), com apoio da Ordem de Advogados do Brasil – Goiás e outras organizações. Lawfare é o termo dado ao uso indevido da máquina pública e de procedimentos legais para perseguir indivíduos politicamente.

“Os inquéritos, processos e ações instalados contra [Elias Rassi] possuem todas as características da guerra jurídica de Lawfare, estampando procedimentos investigatórios a partir de denúncias anônimas, indiciamentos e acusações sem materialidade, ostensiva manipulação do sistema legal para fins políticos, abuso de poder, cerceamento da defesa e intensa publicidade negativa em detrimento do sujeito passivo”, diz o texto, assinado pelos advogados Osmar Pires Martins Junior, Igor Escher Pires Martins e Eliomar Pires Martins. 

No ano passado, mais uma obra lançada pela UFG abordou o caso. No livro “Lawfare como ameaça aos direitos humanos”, o advogado da defesa e mestre em Direitos Humanos Elias Menta explica que a maioria das ações contra Elias são desdobramentos de uma sobrecarga de procedimentos por parte do TCM-GO e investidas do MP-GO, mesmo que sem provas.

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Para se ter uma ideia, o tribunal demorou um ano para enviar o documento com todas as acusações a Rassi, prejudicando a defesa. “Há muito mais nessa situação do que simplesmente os números. Por trás, existe uma pessoa arrasada, um servidor público de carreira, um médico que dedicou e dedica sua vida à saúde pública”, pontua Menta. 

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