Fosse eu Fernando Henrique Cardoso, o sociólogo brasileiro que presidiu o Brasil por oito anos abraçando a clássica social democracia, me desfiliaria do PSDB. E faria disso o meu último ato político após um longo e importante serviço ao país.
Pode parecer para você, leitor, uma defesa radical demais, mas não é.
Radical é o tucano que ocupa o cargo mais importante do PSDB hoje no Brasil apoiar quem defendeu o fuzilamento e morte do próprio FHC – mais de uma vez, diga-se de passagem.
Falo do movimento de Rodrigo Garcia – o governador de São Paulo derrotado no primeiro turno, mas que ainda é o chefe no Estado -, correndo para os braços de Jair Bolsonaro de forma humilhante.
E digo humilhante porque seu apoio foi desdenhado pelo candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que disse que não o quer no palanque. Mesmo assim, Garcia foi correndo ao aeroporto para dar seu apoio a Jair Bolsonaro.
“Eu preguei mudança o tempo todo. Não faz sentido agora estar com eles [PSDB] no palanque. Entendo que eles possam ter papel fundamental na eleição do presidente, mas eu vou seguir na linha que eu me comprometi com São Paulo”, disse Tarcísio de Freitas ao ser questionado sobre o apoio de Rodrigo Garcia a Bolsonaro.
Fernando Henrique não é político de rancores, mas o pedido do seu “fuzilamento” foi feito por Bolsonaro no meio da defesa do horror da ditadura militar.
O atual governador de São Paulo é um político razoavelmente desconhecido do público geral. Era vice de João Doria no Estado, e assumiu após o ex-governador lançar a fracassada candidatura à presidência.
Filiado há pouco mais de um ano no PSDB, Rodrigo Garcia, ao contrário do padrinho político, não conseguiu manter o sucesso partidário no Estado. Ficará, aliás, para sempre marcado como o tucano que perdeu o governo de São Paulo após o PSDB liderar o maior colégio eleitoral do país por três décadas.
E perdeu, ao menos até aqui, justamente para o bolsonarismo, a extrema-direita com viés antidemocrático que foi substituindo a centro-direita (social democrata) representada pelo PSDB na polarização com o PT.
Diante desse quadro, o PSDB perdeu muito mais que São Paulo, mas a sua alma. Quem o neófito Rodrigo Garcia pensa que é para desrespeitar os valores sociais democratas que se opuseram contra a ditadura militar e o arbítrio?
Repito: Rodrigo Garcia estava ao lado do político que defendeu o assassinato de Fernando Henrique Cardoso.
Será que ele se lembra disso? Certamente que sim.
Enquanto José Serra fez o movimento dúbio de apoiar Lula e Tarcísio, um retrato do PSDB perdido dos últimos anos, outros tucanos históricos, como Franco Montoro e Mário Covas, certamente já estão se revirando no túmulo com o ato de Rodrigo Garcia. Uma resposta contundente de FHC seria importante para a democracia brasileira.
PS – Após a publicação deste texto, FHC declarou seu voto: “Neste segundo turno voto por uma história de luta pela democracia e inclusão social. Voto em Luiz Inácio Lula da Silva”.