A aproximação dos evangélicos com as armas de fogo não é um fenômeno recente no Brasil, porém, tornou-se mais acentuado com a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. Segundo dados do Instituto Sou da Paz, com o atual governo, a política de armas no país sofreu 31 alterações, com a emissão de 14 decretos e 14 portarias de ministérios ou órgãos do governo, proposição de dois projetos de leis ainda não aprovados e uma resolução que flexibilizou e facilitou o acesso para a compra de armas e munições. Bolsonaro que se identifica como cristão, ostentando seu slogan de governo “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, constantemente se associa às principais lideranças evangélicas do país, intensificando a harmonização entre o discurso religioso e a política de flexibilização das armas.
Passagens bíblicas retiradas de contexto e distantes da ética de Jesus são utilizadas a todo tempo, como estratégia de marketing para sustentar esse projeto bélico. Os mais mencionados são os trechos do Pentateuco, em que está em voga a famosa lei de talião, do “olho por olho e dente por dente” – que leva em conta que se alguém mata, tem que morrer e se fere deve ser ferido -, bem como o registro do Novo Testamento, no qual Jesus orienta Pedro a pegar em espadas no evento narrado no Evangelho de Lucas 22.
Esse esforço armamentista empreendido por grande parte dos pastores brasileiros tem gerado reflexos negativos no comportamento cotidiano dos fiéis evangélicos. Vídeos de membros de igrejas ungindo revólveres com óleo e casos como o do último final de semana em Teresina, no qual dois cunhados, frequentadores duma Igreja Presbiteriana, morreram num conflito envolvendo a utilização de arma de fogo, tem sido cada vez mais frequentes no Brasil.
Com o intuito de promover uma análise mais crítica sobre esse processo de incitamento ao armamento civil pelas lideranças evangélicas, entrevistei o pastor Ed René Kivitz, líder da Igreja Batista de Água Branca em São Paulo. Kivitz, que é pastor há 35 anos e que representa uma das mentes mais sofisticadas do segmento religioso no país, falou-nos sobre a inconsistência da flexibilização do acesso às armas e comentou a atual conjuntura política e a escalada de violência envolvendo cristãos.
Leia a seguir a entrevista completa:
Rodolfo Capler – O crime organizado brasileiro é muito próximo dos cultos evangélicos. Existe, inclusive, uma guerra entre esses grupos e pessoas que seguem religiões afro-brasileiras tradicionais como a umbanda e o candomblé. De 2018 para cá, houve um aumento nos atos de intolerância religiosa no Brasil com ataques recorrentes as minorias religiosas. Como o senhor enxerga este fenômeno?
Ed René Kivitz – Penso que existem certas tradições cristãs – entre elas, essa protestante cristã-evangélica no Brasil – que tem uma índole maniqueísta. O que eu quero dizer com isso? É o bem contra o mal, a verdade em contraposição à mentira, as a luz em oposição às trevas… Ou seja, não há zona cinzenta. Acredito que essa índole maniqueísta está na gênese do que chamamos desta cristandade, que tem origem no século III, quando Constantino se converte a fé cristã. A suposta conversão de Constantino se dá no contexto da guerra. Ele tem uma visão de que se colocasse o símbolo da cruz nos escudos dos soldados sairia vitorioso da batalha. Então, a cruz que foi um instrumento de morte imposto pelo Império Romano, onde Jesus é morto, se torna o símbolo da vitória dos cristãos contra os chamados povos bárbaros – vitória essa, violenta e bélica. É esta índole de que “com a cruz e com o poder bélico, nós vamos conquistar o mundo”, que eventos como as cruzadas, a inquisição e a expansão colonialista cristã católica romana, são gerados. Aliás, o catolicismo romano com essa índole maniqueísta, bélica e conquistadora, abençoou e promoveu a escravidão e o esmagamento das culturas, como por exemplo, ocorreu na América Latina. Então, existe esse imaginário de que o cristianismo marcha contra as expressões de religiosidade pagã. Infelizmente, essa marcha acontece militarmente com uma cruz abençoando um exército. Isso está na gênese da cristandade e permeia a sua história, de modo que a cristandade nasce violenta, bélica e vertical. Assim, o que nós assistimos hoje é mais um exemplo de tantos fatos históricos que evidenciam essa índole maniqueísta, bélica e “abençoada” por Deus. Nada é mais distante do evangelho que isso, pois, o que o evangelho trás como revelação para a história humana é a mais revolucionária afirmação a respeito de Deus, a saber, “Deus é amor”. Assim, o Deus que se revela no evangelho de Jesus Cristo é um Deus que morre por amor. Entre matar e morrer, ele escolhe morrer. Isso é revolucionário e escandaloso. Foi escandaloso nos dias de Jesus e continua sendo escandaloso em nosso tempo. Em contrapartida, as pessoas continuam querendo um Deus que mata e não um Deus que morre. Por exemplo, quando Jesus diz: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá sua vida pelas ovelhas” (João 10.11), isso soa como um escárnio. Na verdade o que eles queriam era algo como: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor mata o lobo”. A declaração de Jesus, de que ele dá a vida pelas ovelhas, é a mais absoluta afirmação de que Deus é amor. Essa declaração se contrapõe à índole maniqueísta e bélica abraçada pelos cristãos.
Rodolfo Capler – Há algumas semanas o vídeo de um pastor orando por revólveres dispostos sobre uma mesa, viralizou na internet. Eventos como este se tornaram corriqueiros no país. Por que os evangélicos estão abraçando uma cultura bélica?
Ed René Kivitz – Porque além da índole maniqueísta que os domina, eles são influenciados por uma cultura que tem a agravante de ser fortemente influenciada por uma tradição judaizante. Ou seja, eles se escoram numa tradição cristã que ainda é orientada por uma leitura equivocada do Velho Testamento, uma espiritualidade baseada numa justiça retributiva. Esse espírito veterotestamentário, não permite a existência da misericórdia, da compaixão, do perdão e o do “virar a outra face”. Infelizmente, as igrejas evangélicas fazem a leitura da realidade por meio desta lente interpretativa. Eu não quero dizer com isso que o judaísmo é violento, pois seria um contrassenso, porquanto foram historicamente perseguidos. Inclusive o rabino Jonathan Sacks escreveu um livro extraordinário, cujo título é “Não em meu nome”, no qual afirma: “Não se pratica violência em nome de Deus”. Voltando ao raciocínio inicial, essa igreja evangélica que lê o Velho Testamento com o viés da justiça retributiva – que inclui a famosa lei de talião, do “olho por olho e dente por dente” e que apregoa benção para quem é obediente e maldição para os desobedientes – só dá duas opções aos chamados “infiéis”: ou se convertem ou são eliminados. Portanto, essa ideia de evangelho sustenta que os “infiéis” são a causa da maldição nacional. Por conseguinte, conforme o entendimento daqueles que abraçam este tipo de evangelho, o Brasil estaria na situação econômica deplorável na qual está, por causa dos “infiéis”. Exemplo disso é o atual presidente da República que afirma que as minorias sociais do Brasil devem se adaptar ao establishment ou então procurarem outro lugar para habitarem, pois, serão banidas do país. Este é um discurso religioso, maniqueísta, excludente e violento, que sustenta a ideia da luz contra as trevas e do bem contra o mal. Por essa razão, é muito próprio deste imaginário religioso evangélico, a permissão de que pessoas tenham um calibre 38 nas mãos e que unjam uma réplica duma arma de fogo na Marcha para Jesus. Há incongruência maior do que esta?
Rodolfo Capler – Armar a população resolverá o problema da segurança pública no Brasil?
Ed René Kivitz – Eu acabei de gravar mais um episódio do meu Podcast “Qohélet”, cujo título é “Pistola”. Para construir este episódio eu pesquisei muito e encontrei informações, entre as quais, a de que houve uma queda na taxa de homicídios no Brasil de 2018 para 2020, com algo em torno de 7%. Os institutos de pesquisa e os analistas sociais que se dedicam ao tema da violência urbana, dizem que a queda na taxa de homicídios não tem nada a ver com o armamento da população. Outros fatores explicam o fenômeno, como a sofisticação do crime organizado (que aprendeu que matar não é um bom negócio), a divisão territorial, a inteligência das forças policiais e as políticas públicas de segurança (excetuando-se a atual política de segurança do estado do Rio de Janeiro, que é nefasta). Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (que registram que há mais amamento na posse da sociedade civil do que das forças do Estado), as armas nas mãos dos cidadãos tem um efeito contrário, ou seja, aumenta a insegurança da população. Isso em razão das armas contribuírem para o agravamento dos conflitos do cotidiano, como por exemplo, para o acirramento duma briga de bar ou de trânsito. Vide o caso do último dia 30 de Julho, em Teresina, no qual um cunhado mata o outro cunhado e logo a seguir morre atingido por arma de fogo. Detalhe: todos eram frequentadores de uma Igreja Presbiteriana. Assim, eu afirmo enfaticamente, que os pastores promotores do armamento da população tem sangue nas mãos, porquanto a população civil não é treinada psíquica e emocionalmente para ter armamentos em casa. Os cidadãos, sequer, têm estrutura e aparato técnico-social para portar um revolver na cintura. Interessante é que com a política de segurança de Bolsonaro, com o estabelecimento do CAC (autorização para aquisição de armas para colecionador, atirador desportivo e caçador), há um clube de tiros sendo aberto por dia no Brasil, o que permite que bandidos comprem armas legalmente com registro e com preço mais barato. Diante disso, a questão que se coloca é a seguinte: quem lucra e quantos milhões ou bilhões lucra com esta política armamentista do governo Bolsonaro? Porém, “deve existir um sigilo de cem anos” para esta informação. Mas, eu gostaria de saber quem ganha com tanto incentivo para o armamento da população. Há de se dizer, também, que esse projeto de armar a sociedade revela uma pretensão golpista. A ideia seria colocar armas e munições nas mãos de um povo fanático que a qualquer momento pode querer resolver problemas político-sociais à bala. Isso é algo absolutamente inominável e intolerável, visto que as balas não colocarão ordem no Brasil, apenas colocarão sangue na desordem.
Rodolfo Capler – Nos últimos 5 anos, o Brasil teve uma média anual de 55 mil homicídios. De que modo as igrejas evangélicas podem contribuir para pacificar a nação?
Ed René Kivitz – Deveria ser óbvio que a igreja tivesse na sua boca palavras como reconciliação, perdão, compaixão, misericórdia e paz. Mas os pastores hoje estão defendendo o direito de matar, em legítima defesa. Eles estão acreditando que uma arma no coldre ou uma arma em casa é a garantia de uma família protegida. Isso no meu entendimento é um retrocesso civilizatório. Creio que a igreja deve educar para a paz. Ou seja, a igreja precisa educar para a vida e não para a morte. Eu disse outro dia num dos meus sermões dominicais que eu não imagino Jesus entrando numa festa de aniversário em Roma ou numa em Jerusalém, gritando: “Aqui é Jeová!”, e disparando tiros no ambiente. Não imagino uma coisa dessas. Penso que a igreja perdeu Jesus de vista… A igreja substituiu o Messias, que foi profetizado como “o Príncipe da paz”, pelo Messias promotor da morte, de modo que ela necessita voltar a Jesus, seu legítimo Senhor, o príncipe da paz. Somente assim a igreja se conformará à bem-aventurança de Jesus, de que “felizes são os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus”.
Rodolfo Capler – O que o senhor acha do ensino religioso nas escolas públicas? Funciona?
Ed René Kivitz – É preciso fazer uma distinção entre ensino religioso e cultura humanista baseada em tradições espirituais. A espiritualidade é uma dimensão do ser humano, assim como a racionalidade e a corporeidade. Por exemplo, virtudes como justiça, solidariedade e generosidade, não são atributos do corpo ou da mente, mas do espírito. Você pode ter um sujeito fisicamente forte e inteligente, mas que é racista, xenófobo, supremacista branco e nazista. Os grandes facínoras da humanidade foram homens inteligentíssimos, que criaram estruturas de extrema sofisticação destrutiva. Dessa forma, a espiritualidade é uma dimensão humana a ser desenvolvida. Como bem disse o Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. Por essa razão eu acredito que num Estado laico a escola não deve ensinar religião; o ensino da religião é uma prerrogativa da família. A escola por sua vez, tem a incumbência de ensinar as virtudes humanistas que são comuns a todas as tradições religiosas.
Rodolfo Capler – À luz da fé cristã a acumulação de bens materiais é pecado?
Ed René Kivitz – Dinheiro é um assunto absolutamente espiritual. Jesus disse que o dinheiro tem um potencial idolátrico. Na Bíblia Sagrada, dinheiro elevado à categoria de Deus é um ídolo chamado Mamom. Por causa disso, por exemplo, nos Evangelhos, Jesus falou mais sobre dinheiro do que sobre fé. Depois do Reino de Deus, o segundo assunto sobre o qual Jesus mais abordou foi dinheiro. Inclusive uma das principais coisas que Jesus afirmou foi que é mais fácil um camela passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus. O apóstolo Paulo disse que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” e que muita gente querendo enriquecer acabou destruindo a própria vida e a vida de muita gente. Entretanto, você não encontrará no texto bíblico uma afirmação que afirme, categoricamente, que o acumulo de dinheiro é pecado. Não há um versículo sequer que diga que a acumulação de bens é pecado. Todavia, a lógica bíblica e do evangelho de Jesus aponta nessa direção. Num mundo onde existe fome, o acúmulo material é obsceno, imoral e maligno. O Reino de Deus é um reino de justiça e paz, onde há abundância de tudo para todos. Já o reino de Mamom é um reino de injustiça, desigualdade, acúmulo, escassez, fome e morte.
Rodolfo Capler – é possível ser cristão e ser de esquerda?
Ed René Kivitz – Nos últimos tempos, no Brasil, “esquerda” virou um palavrão – quase um xingamento. Nas minhas redes sociais, as pessoas me chamam de comunista, socialista e esquerdista, como se estivessem me ofendendo. O termo “esquerda” tornou-se uma injúria porque é associado aos regimes comunistas que perseguem cristãos, à luta pelos direitos reprodutivos da mulher (especialmente à questão do aborto), e às pautas identitárias, sobretudo àquelas relacionadas a comunidade LGBTS. Desse modo, quando alguém declara: “Eu sou de esquerda”, logo é acusado como alguém a favor do aborto e classificado como perseguidor de cristãos e como ativista das causas homoafetivas. Isso na verdade, não passa de uma caracturização pejorativa da ideia da esquerda. Eu já declarei várias vezes que eu sou contra o aborto e acredito que, inclusive, a maioria das mulheres que praticam o aborto é contra o aborto. Entretanto, o aborto é uma questão de saúde pública… Toda a questão moral envolvendo a comunidade LGBTs está envolta numa tradição religiosa cristã de dois mil anos que condena pessoas homoafetivas ao inferno. Por isso, nós precisamos de um entendimento atualizado do evangelho e de um acolhimento amoroso dessas pessoas. Dito isto, penso que caricaturar a “esquerda” com essas questões é muito limitante. Agora, quando você trata a esquerda da perspectiva duma corrente ideológica que abarca o apoio dos direitos humanos, a busca duma sociedade mais igualitária, a promoção da justiça social – promovida não apenas pelas lógicas meritocráticas do Mercado, mas também pela atuação dos governos -, e o auxílio aos pobres, eu diria (nesse sentido) que não só é possível um cristão ser de esquerda, como é uma obrigação um cristão ser de esquerda. Quando alguém me pergunta: “Você é de esquerda?”, eu respondo o seguinte: “Se você está me perguntando se eu sou a favor do aborto e dos regimes comunistas e socialistas totalitários, eu digo que não. Agora, se você está me perguntando se eu sou a favor das pautas identitárias, dos direitos das mulheres e dos LGBTs, das questões raciais, do ideário dos direitos humanos e de um Estado que priorize os pobres e o enfrentamento da pobreza, então eu declaro que sou de esquerda”.
Rodolfo Capler – O que o senhor tem a dizer a respeito do apoio irrestrito de boa parte das lideranças evangélicas ao bolsonarismo?
Ed René Kivitz – “Existe por trás deste governo uma mente intelectualmente limítrofe, cientificamente ignorante, ideologicamente totalitária, religiosamente obscurantista e moralmente perversa. É urgente que seja exorcizada!”. Eu disse isso em março de 2020, no início da pandemia. De lá para cá, eu acrescentaria adjetivos a isso que existe por trás deste governo – adjetivos sombrios e nefastos. O que este governo fez e está fazendo com o meio ambiente, com a floresta, com a cultura, com a educação e com o imaginário civilizatório do país e com as conquistas das sociedades das democracias liberais, é assombroso. De tal modo, eu penso que a adesão das lideranças religiosas evangélicas a esse governo, implica uma incompatibilidade de gênios ou deveria implicar. Lamento que não. Agora, eu fui educado numa tradição religiosa protestante evangélica batista, que me ensinou a separação entre a Igreja e o Estado. Eu fui ensinado a pensar como Martin Luther King Jr., que afirmou: “A igreja é a consciência crítica do Estado”. Uma igreja que aderiu ao bolsonarismo e ao governo de Jair Bolsonaro como a chamada igreja evangélica brasileira aderiu, na minha opinião, não apenas agride o espírito do evangelho, mas afronta a minha tradição batista. Jesus não mandou que os seus discípulos assumissem o senado romano ou elegessem um dos seus discípulos como imperador, muito menos, que convertessem o imperador. Aliás, se tem uma coisa mal entendida no cristianismo é justamente a conversão de Constantino à fé cristã. Eu tenho absoluto estranhamento com o bolsonarismo e as lideranças evangélicas que abraçaram o bolsonarismo.
Rodolfo Capler – Tudo bem misturar política e religião?
Ed René Kivitz – Desmond Tutu, que foi arcebispo da Cidade do Cabo e prêmio Nobel da Paz, afirmou: “Não existe nada mais político do que dizer que política e religião não se misturam”. Não é possível separar religião e política. Todo ato humano é um ato coletivo e todo ato coletivo é um ato político. Então, religião, por si, é uma experiência política. Por exemplo, a presença de uma comunidade religiosa dentro duma cidade é um ato político, porque a comunidade cristã implica uma lógica de existência que confronta as lógicas da cidade. A questão sobre a qual devemos refletir é: quais são os valores religiosos que orientam a ação política? São os valores da exclusão ou são os valores da comunhão? São os valores que favorecem a vida humana e especialmente a vida dos seres humanos em condição de vulnerabilidade? Toda vez que eu fizer uma escolha eu tenho que escolher a favor da vida e não a favor de algumas vidas. Prioritariamente, devo escolher a vida do órfão, do idoso e das pessoas que estão em condição de vulnerabilidade e de ameaça, a saber, o pobre, o preto, o gay e aquele que tem uma confissão de fé minoritária. Tudo isso é ato político…
Rodolfo Capler – Qual mensagem o senhor gostaria de deixar para o eleitor evangélico?
Ed René Kivitz – Que o eleitor evangélico olhe para Jesus. Porque nem tudo o que está na Bíblia está em Jesus. Nem tudo o que está na tradição da cristandade está em Jesus. Nem tudo o que está na tradição evangélica no Brasil está em Jesus. Nem tudo o que está na boca dos pastores, apóstolos e bispos evangélicos brasileiros, está em Jesus. Que o eleitor e a eleitora evangélicos olhem para Jesus, pois tudo o que é divino está em Jesus. Portanto, que o eleitor evangélico escolha fazer o caminho de Jesus, do jeito de Jesus, com Jesus.
*Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP