Jornal Nacional acaba com o personagem ‘Bolsonaro mito’
Nem atacar Lula, o presidente atacou…
A semana da entrevista dos candidatos ao Jornal Nacional é aquela com os sete dias dias chaves da campanha para qualquer um que almeja ser presidente da República.
Pensando por esse lado – e somando a ele o fato de que a discussão é se haverá ou não segundo turno -, Jair Bolsonaro perdeu a primeira batalha de uma semana decisiva.
Mas não a guerra.
Sair-se mal numa entrevista frente a frente com Willian Bonner e Renata Vasconcellos – dois excelentes entrevistadores – acontece, como ocorreu, mas agora ele precisa jogar parado, esperando Lula, que pode ir ainda pior no telejornal.
É improvável – sabemos – mas, sim, pode acontecer.
Bolsonaro foi mal nos temas urnas eletrônicas, Covid-19 – nesses dois últimos lembrando as razões pelas quais é tão rejeitado – economia (o tema passou rápido demais) e meio ambiente.
Aliás, nesses primeiros 20 minutos, Bolsonaro só foi bem mesmo ao lembrar que foi ele que “pariu” o Auxílio Brasil, o benefício criado pelo presidente para sobrepor o Bolsa Família e tentar ter um programa social para chamar de seu.
De resto, a imagem do presidente era ruim – abatido, claramente – enquanto Bonner e Vasconcellos faziam boas perguntas, com a seriedade correta, e até com um tom de sarcasmo que um candidato que banaliza a presidência da República… merece.
Nas outros temas, como a política, por exemplo, Bolsonaro se viu acuado por um meme – o tchutchuca do centrão -, e acabou se saindo até bem da situação, após ser questionado sobre a incoerência com o que ele prometeu em 2018: a “nova política”.
“Você está me estimulando a ser ditador?”, devolveu Bolsonaro com uma outra pergunta para surpresa de todos, explicando depois que não teria como governar sem o Congresso Nacional.
Mas, depois, mentiu ao dizer que o PP não era centrão, por exemplo.
No tema corrupção, mesmo tendo vivido escândalos com desvios de dinheiro em seu governo, o presidente também foi bem ao questionar: “cadê e o dinheiro? Cadê o duto?”. O mandatário estava fazendo ali uma clara referência ao escândalo do petrolão.
No mais, fica aqui também o registro: Bolsonaro não atacou Lula, que lidera as pesquisas.
Quem precisa manter votos é o petista, e não o líder da extrema-direita, que quer avançar. E muito. Ou vocês esqueceram? Empate fora de casa para quem está perdendo não termina com o título do campeonato, lembram os técnicos de times de futebol.
O presidente nem parecia aquele confiante candidato de 2018, que foi para cima dos entrevistadores, gerando um milhão de memes contra os jornalistas – e a favor dele mesmo.
(Aliás, faça um exercício, leitor: veja a entrevista de quatro anos atrás e compare com a de agora)
Sobre um tema que o incomoda bastante, por exemplo – como o de suas claras tentativas de interferência na Polícia Federal – disse enfaticamente: “ninguém controla a [PF]”. Ninguém controla, vírgula. Até porque, que ele tentou… isso tentou.
Sim, percebemos, o presidente não se irritou, não perdeu a linha totalmente, não xingou, repetiu a ladainha de sempre (garantiu que respeitará “eleições limpas”, o que quer que ele esteja dizendo com isso) e pediu, quase implorou a Willian e Renata: “vamos colocar um ponto final nisso”.
Ponto final parece ter dado o presidente na questão de que ele se sai melhor mesmo no ataque, e não com uma versão mais amena apresentada na noite desta segunda-feira, 22. O mandatário, lembrou um político bolsonarista à coluna, só citou a palavra fakenews uma vez, e foi rapidamente corrigido por Bonner.
É um fato: se ele vai ganhar a eleição, é impossível dizer. Até aqui, parece que não. Mas o “Bolsonaro mito”, personagem criado pela extrema-direita em 2018 nas redes sociais, acabou. E acabou hoje, no telejornal mais importante do país.