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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Moro joga xadrez e deixa Bolsonaro em saia justa com reunião ministerial

Ex-ministro quis tornar público vídeo do encontro para também afetar politicamente o presidente. Se inquérito for arquivado, ainda pode embasar impeachment

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jul 2020, 11h38 - Publicado em 13 Maio 2020, 15h37
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  • A estratégia do ex-ministro Sérgio Moro nunca foi tão somente a de apontar o caminho das provas no inquérito sobre a tentativa de interferência na Polícia Federal, mas principalmente de tornar pública a forma incauta como o presidente Jair Bolsonaro buscou, insistentemente, trocar peças-chave no comando do órgão. Como em um jogo de xadrez, o ex-juiz mexe as peças e tem antecipado os movimentos de Bolsonaro.

    Nesta quarta, 13, os advogados de Moro afirmaram que a divulgação integral do vídeo da reunião ministerial “trará à luz inquietantes declarações de tom autoritário inviáveis de permanecerem nas sombras” e que “caracterizará verdadeira lição cívica”.

    Ao dizer em seu depoimento à PF que não apontou crime contra o presidente, e que esse juízo caberá às “instituições competentes”, o ex-ministro da Justiça se defendeu em um primeiro momento, mas para depois atacar: “que o declarante [Moro] gostaria de sintetizar as provas que pode indicar a respeito do seu relato; [como] as declarações do Presidente no dia 22 de abril de 2020, na reunião com o conselho de ministros, e que devem ter sido gravadas como é de praxe”.

    Enquanto as provas vão sendo colhidas, e a mais importante delas é, sem dúvida, o vídeo da última reunião ministerial com a presença no Moro no Palácio do Planalto, já começaram as especulações se o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, vai ou não denunciar o presidente por crimes previstos neste caso.

    Como informou a coluna, a vinculação entre troca na superintendência da PF e proteção a família, explicitada na reunião ministerial pelo presidente, dificulta bastante o arquivamento da investigação, na avaliação de investigadores da própria corporação e também do Ministério Público Federal.

    Contudo, mesmo na hipótese de Augusto Aras entender que não há crime na postura de Bolsonaro em relação à direção-geral da PF, e uma de suas 27 superintendências, e defender o arquivamento do inquérito, as provas já estarão sob domínio público, expostas para a sociedade.

    E um dos aspectos desta estratégia – até aqui vitoriosa de Moro – de torná-las públicas é a de que qualquer cidadão pode submete-las ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, pedindo o Impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Por isso, a importância de torná-las públicas.

    Como diz um meme que fez muito sucesso no Brasil, invejosos dirão que, com a denúncia arquivada, perde-se totalmente a força de um processo de impedimento. A história mostra que não é bem assim. O ex-presidente Fernando Collor foi inocentado na esfera jurídica, mas antes sofreu o impeachment na arena política ao provocar uma crise econômica. Uma ação não impede a outra.

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    Para o colunista de Veja Thomas Traumann, Jair Bolsonaro pode enfrentar uma tempestade perfeita: a crise moral pela pandemia e a postura negacionista responsável em parte pela propagação da doença, a crise econômica causada pelo fechamento do comércio para combater o coronavírus e, finalmente, a política, agravada pelas denúncias de Moro.

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    Um importante ator e jurista brasileiro, sempre com olhar atento à política, avalia que parte dos apoiadores de Bolsonaro pode retirar o apoio ao governo, ao ver a gravação da reunião e a forma até torpe com que o presidente e alguns de seus ministros se comportaram. Isso sem falar na catástrofe política se colar a pecha em Bolsonaro de que ele agiu na PF para  impedir investigações contra seus filhos e aliados. “Moro deve jogar xadrez. Sabe mexer as peças e antecipar movimentos de Bolsonaro”, ironiza o jurista.

    Ele se refere, claro, à corrosão do apoio popular ao governo. Ao pedir demissão do governo condenando a ingerência em um órgão de estado, Moro cumpriu a principal promessa que fez ao tomar posse, a de que atuaria como um técnico e não como político no comando do Ministério da Justiça. Ao insistir na divulgação do vídeo da reunião ministerial, despiu-se definitivamente do servidor público que usou a toga por mais de 20 anos. Ele atua mais do que nunca na arena política.

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