Edson Fachin, ministro do STF que assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em uma semana, acordou o país nesta quarta-feira, 16, com um aviso ensurdecedor.
“Posso dizer a vocês que a Justiça Eleitoral já pode estar sob ataque de hackers, não apenas de atividades de criminosos, mas também de países, tal como a Rússia, que não tem legislação adequada de controle”, afirmou o magistrado, vivendo novamente um momento da carreira em que ficará sob forte holofote, numa entrevista ao Estado de S.Paulo.
De acordo com Fachin, “a preocupação com o ciberespaço se avolumou imensamente nos últimos meses” – isso horas após o magistrado dizer, durante reunião de transição no TSE com o ministro Luís Barroso, que a Rússia declarou guerra à Justiça Eleitoral.
Em nenhum momento, Fachin citou que o presidente Jair Bolsonaro está na Rússia, numa visita estapafúrdia em meio a rumores de Guerra. Não é à toa ou coincidência. Fachin faz o alerta hoje, justamente quando o presidente brasileiro se reúne com o líder russo, Vladimir Putin, para um almoço no Kremlin.
Na entrevista ao matutino, Fachin afirma que o Brasil terá, em 2022, “o maior teste das instituições democráticas”. Como quem olha para Bolsonaro de frente, ressaltou duas coisas:
1 – “Não há mais espaço para o populismo autoritário no Brasil”.
2 – “Nós tivemos 25 anos de uma ditadura que trouxe consequências nefastas para o Brasil. Ditadura nunca mais”.
O presidente da República, como se sabe, é defensor das duas coisas – até por ser a maior viúva da ditadura militar brasileira.
O que se percebe com todas essas declarações é que Fachin seguirá o bom trabalho de Barroso e fechará o cerco, por exemplo, contra o Telegram, o aplicativo – sim, o app é russo – que mais ganhou de usuários ao redor do mundo. O magistrado ficará até 17 de agosto, mandato curto, mas será essencial para nortear as eleições, que serão presididas por Alexandre de Moraes.
Se Fachin mantiver a boa toada de hoje nos próximos meses, poderá não só banir o Telegram do Brasil, uma das possibilidades estudadas pelo TSE, como também o autoritarismo covarde que se alimenta dele para difundir informações falsas.
Antes de virar ministro do STF, em 2015, Fachin conquistou notoriedade no meio jurídico por novas teses envolvendo direito civil e de família, áreas nas quais se especializou em seu escritório de advocacia.
Depois que assumiu a cadeira na corte, enfrentou a árdua relatoria da Lava Jato, que impôs a ele assumir as ações penais na corte contra políticos. Isso, após a morte trágica do colega de toga Teori Zavascki.
Naquele momento, ninguém achava que sua trajetória encontraria um desafio maior, mas o país estava enganado. Fachin não fugiu, e mostra agora que não fugirá de novo. Pelas declarações, vai liderar, com mão de ferro, a corte no ano eleitoral mais estrepitoso das últimas quatro décadas.
“O mundo não virou planeta sem lei”. Bolsonaro, o maior beneficiado pelas fake news em 2018, que coloque as barbas de molho. Ele e os seus concorrentes. A justiça é cega, mas Fachin está com os olhos bem abertos.