O mais espantoso na revelação mais importante da semana não foi o ressurgimento de Walter Delgatti Neto, mas o que os poderosos fizeram com o hacker.
É a revelação de uma nova operação aloprada do bolsonarismo nesse Brasil pós-verdade, com o entendimento de que o nível da degradação institucional é ainda pior.
Isso porque o papel de Walter Delgatti Neto em si é conhecido. O hacker é um notório invasor de sistemas para pegar informações — e de forma criminosa.
O comprometedor agora é o fato de que uma deputada teria pago a ele por serviços escusos — um deles o de invadir o Conselho Nacional de Justiça para implantar um absurdo documento falso que envolve uma falsa autodeterminação de prisão por um ministro Supremo.
Se formos pensar cautelosamente, a cúpula do poder político durante o governo passado se reuniu com um hacker — e no centro da conversa estava a possibilidade de invasão do sistema eleitoral.
Isso é gravíssimo e foi revelado, primeiramente, por VEJA.
Jair Bolsonaro e Carla Zambelli deveriam ter reportado às autoridades. É assim que funciona. Do contrário, trata-se de prevaricação. Vou repetir: autoridades públicas constituídas pelo voto deveriam denunciar crimes, e não pagar para eles serem cometidos. E isso vale para todos os partidos brasileiros.
O caso lembra os envolvidos no escândalo dos aloprados do PT, aquele em que integrantes do partido foram presos em São Paulo, às vésperas das eleições de 2006, quando se preparavam para comprar um dossiê fajuto que serviria para enredar políticos do PSDB com a máfia que fraudava licitações no Ministério da Saúde.
Não se viu isso ainda no atual governo, mas se testemunhou sim em outros momentos em que o PT esteve no poder. O que choca é que, aparentemente, toda linha ideológica no país parece ter sua parcela de aloprados.