Como já havia sido antecipado inclusive por esta coluna, o presidente eleito Lula anunciou José Múcio Monteiro Filho como o Ministro da Defesa de seu governo.
José Múcio é brilhante, hábil, conciliador e capaz de andar por todos os lados dessa polarização direita x esquerda que marca a política brasileira. De fato, ele pode acalmar os ânimos da caserna.
Prova disso foram os elogios feitos pelo presidente Jair Bolsonaro em 2020 durante evento que marcou a saída de Múcio da Presidência do Tribunal de Contas da União (TCU).
“Zé Múcio, me permite, sou apaixonado por você. Gosto muito de Vossa Excelência, dos momentos bons, épicos na Câmara e também os maus momentos. […] Vossa excelência tem comportamento conciliador, amigo”, disse Bolsonaro.
Não há dúvidas de que José Múcio será um bom ministro. No entanto, o comportamento extremamente conciliador deixará no ar um problema que se arrasta não só desde o início da gestão de Bolsonaro, mas que se iniciou em 1964: a politização das Forças Armadas.
Ao escolher Múcio para a Defesa, Lula está, de certa forma, deixando os militares à vontade e exatamente na mesma situação em que se encontram hoje, e que se encontram no golpe. O novo ministro provavelmente não terá a postura de recolocar as Forças Armadas em seu lugar de instituição de Estado e não de governo.
A escolha de Lula mostra que o novo presidente não vai fazer nenhum movimento incisivo contra os militares, exatamente como em 2003, ano do primeiro mandato presidencial dele. Naquele ano, o escolhido foi José Viegas Filho, que tem características parecidas com as de José Múcio. Desde seu primeiro mandato, Lula decidiu contemporizar com as Forças Armadas e nunca tocou na ferida dos problemas históricos causados pela ditadura militar, e que, entre 2018 e 2202, nos renderam marcos civilizatórios. Pelo visto, o petista pretende manter essa postura.
Lula erra ao escolher alguém que estará mais preocupado em manter as coisas como estão e não criar conflitos dentro das Forças Armadas. Depois de todos os problemas que causaram ao país e que continuam causando com os atos em frente aos quartéis, os militares devem estar felizes porque poderão continuar exatamente onde estão: em sua genética antidemocrática.